Para Geancarlo Stein escrever é eternamente adiar o ponto final
Assim terminava uma de minhas poesias, escrita na ebulição de meus vinte anos. Admirador do lirismo de Álvares de Azevedo, da poesia urbana de Chico Buarque e Carlos Drummond, invejoso da sedução pelas palavras do boêmio Vinícius de Moraes, expressava então com aquela frase como compreendia a real missão da palavra escrita.
O gosto pela leitura, a solidão escolhida e não imposta, o intimismo e a vontade de “entrar” no mundo sempre foram para aquele menino do Jardim América, educado no Francisco Isabel, uma meta não clara, mas já presente. Cresci, fui embora para estudar, voltei com a RBS, voltei outra vez para ser secretário do município, fui embora outras vezes, sempre com o coração cheio de sentimentos, dividido pelo amor entre Florianópolis e Riomafra.
Neste ínterim, amigos, muitos amigos. Um deles, Renato Murilo de Souza, editor do jornal, com quem num de nossos bate-papos, surgiu a possibilidade de vir a escrever na Gazeta. Desde então, (dez anos) a coluna que nasceu com o nome breve de “Contraponto”, tem sido minha janela aberta para as duas cidades.
Um espaço de revelações, de críticas, de textos bem humorados e outros nem tanto, de compartilhamento de opiniões, de reflexões nem sempre exatas, de tentativas de ressoar expectativas dos leitores que de certa forma também se viam nas notas semanais dos sábados pela manhã.
Com a coluna exercitei a ponderação, o olhar com mais cuidado para as diversas nuances do mesmo fato e a perceber que uma ideia era recebida e gerava reflexos e consequências. Principalmente porque pela coluna ressoavam sentimentos que não eram somente meus, e que por meio de suas linhas se alcançava uma amplitude impossível de ser ignorada.
Ao reler colunas antigas sempre me surpreendo com a intensidade de alguns textos e revivo o calor da época em que foram escritos. Dez anos se passaram numa parceria isenta e tranquila, onde nenhuma de minhas linhas, em qualquer época sofreu tentativa de censura ou restrição por parte dos gestores do Jornal. Pelo contrário, sempre foram aliados responsáveis. Dos colegas que fazem o jornal sempre obtive compreensão e muito apoio, referência que não pode ser esquecida. Isso tudo é sinal de maturidade jornalística de uma empresa.
Hoje, aos 43 anos, pai de uma filha que é a mais bonita poesia que eu poderia conceber, escrevo estas linhas sobre meus dez anos dentre os trinta da Gazeta de Riomafra. Por meio de suas páginas pude dar sequência e forma ao vaticínio de há vinte anos: eu e vocês, queridos leitores, a cada sábado, adiamos e perpetuamos indefinidamente o dia do ponto final!
Obrigado a vocês pela companhia destes 10 anos!
Parabéns Gazeta por fazer parte e registrar a história viva destas cidades!