O Hospital de Mafra realizou procedimentos na última semana, para a retirada de órgãos que foram doados por familiares de José de Lima, numa demonstração de amor e valorização à vida como um todo
Foi na manhã do dia 12 último que o pedreiro José de Lima (52), pai de oito filhos e residente no bairro Restinga, em Mafra, começou a passar mal e foi encaminhado às pressas para o Hospital São Vicente de Paulo onde, naquela tarde, veio a sofrer morte encefálica, em virtude de um “derrame cerebral” (Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico).
De pronto a equipe do nosocômio acionou a família de Lima, comunicando o ocorrido e verificando a viabilidade de doação de órgãos do mesmo. Os filhos de José, em rápida conversa e mesmo em meio à dor por perder o pai, tomaram a decisão pela doação de órgãos do mesmo, no intuito de amenizar o sofrimento de outras pessoas e garantir a melhoria da qualidade de vida àquelas que viriam a receber os órgãos.
O Protocolo de Captação de Órgãos e Tecidos – o 10º já realizado junto ao Hospital São Vicente de Paulo (o que não significa que em todos os casos a captação foi realizada), foi aberto na manhã do dia 13 e, na metade da tarde do mesmo dia, uma equipe da SC Transplantes, com sede em Florianópolis, chegou ao município e efetuou a captação dos órgãos de José de Lima, após a realização de todos os exames necessários e, então, já se sabendo a destinação dos mesmos a pacientes no Estado Catarinense. Estiveram envolvidos em todo o procedimento em Mafra, os médicos Felipe Castro (Neurocirurgião); Renato Gonçalves (Neurologista que atuou no diagnóstico); e Denis Carvalho (Anestesista).
De acordo com a psicóloga Pollyana Weber da Maia, do Hospital São Vicente de Paulo, as cirurgias de transplantes dos órgãos doados não são realizadas no município, que também não tem conhecimento sobre a destinação dos órgãos. Indagada, a psicóloga disse não saber se algum mafrense foi beneficiado com a doação autorizada pela família de Lima. “A equipe, quando vem efetuar a retirada dos órgãos, já tem conhecimento dos pacientes que serão beneficiados com eles e, tão logo findados os procedimentos, partem com estes para Hospitais onde os receptores já estão internados e recebendo o tratamento necessário para receber os órgãos”, enfatiza.
A enfermeira Aline Pure, coordenadora da Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos e Transplantes do Hospital de Mafra, diz que para acontecer a captação de órgãos e o posterior transplante dos mesmos, é necessário que, primeiramente, o paciente tenha o diagnóstico de morte encefálica – identificada após diversos exames e, no caso de Mafra, especialmente através do eletroencefalograma e, na sequência, a autorização de familiares, como o ocorrido no caso de José de Lima. Após os procedimentos de praxe, que demoram aproximadamente 24 horas, tempo em que a família recebe apoio da equipe do Hospital, foram captados do paciente mafrense, os dois rins e as duas córneas, que na noite do mesmo dia, foram transplantados em pacientes em Hospitais cadastrados no Estado.
O coração de José de Lima não foi captado por motivos de logística, tais quais a falta de um exame complementar obrigatório para tal procedimento, que não existe no Hospital Mafrense, mas já tem estudos de viabilização, e a própria ausência, naquele momento, de equipe de captação de coração no Estado Catarinense.
A equipe da Comissão de Doação de Órgãos do Hospital São Vicente de Paulo, assim como sua diretoria, ouvidos por nossa reportagem enfatizou a importância do gesto da família Lima, com a doação dos órgãos, agradecendo a colaboração de todos os profissionais envolvidos nesse processo. “Agradecemos a disponibilidade da família em seu ato de amor e solidariedade, possibilitando esperança para pessoas que aguardavam por um transplante. Que este ato possa servir de exemplo para todos nós”, apontam.
Exemplo durante a vida e após a morte
Nossa reportagem conversou com alguns familiares de José de Lima, ainda durante o velório do mesmo. A filha Danieli Wosinhak destacou as características de ser o mesmo um bom pai, honesto e trabalhador. Segundo ela, José (mais conhecido por Lima), era uma pessoa acessível a todos e que, entre outras qualidades, gostava muito de crianças e da família como um todo.
A irmã de José, Inês de Lima, também destacou as qualidades do mesmo, apontando ainda a calma com que o mesmo tratava a todos, conquistando cada dia maior gama de amigos, e sua dedicação para com a família. “Ele era um bom pai, amigo, trabalhador, uma pessoa calma e um ótimo irmão”, disse entre lágrimas, citando que assim como o mesmo foi um exemplo em vida, agora também o se tornou, após o falecimento. “Temos a certeza de que os órgãos dele irão fazer a alegria de pacientes e familiares”, discorreu ela entre lágrimas pela perda do ente querido.
O corpo de José de Lima foi sepultado às 15 horas do dia 14 último, no Cemitério de Rio Negro.
A SC Transplantes
Inaugurada em dezembro de 1999 e funcionando no centro da Capital Catarinense, a SC Transplantes – Central de Captação, Notificação e Distribuição de Órgãos e Tecidos de Santa Catarina presta atendimento a todos os Hospitais e Associações Hospitalares devidamente registrados junto ao Órgão, captando órgãos de pacientes com diagnóstico de morte encefálica e oportunizando o transplante dos mesmos a pacientes compatíveis para tal procedimento.
Somente em 2010, foram realizados em todo o território de Santa Catarina, 109 transplantes de órgãos, dos 295 casos de morte encefálica notificados. Dessas notificações citadas, 36,90% possibilitaram os transplantes efetuados, e houve a negativa de 30,8% dos casos por parte de familiares.
Das doações ocorridas no Estado, duas foram de pacientes com idade entre 06 e 11 anos; 04 de pessoas com 12 a 17 anos de idade; 41 de 18 a 40 anos; 51 entre 41 e 60 anos e outros 11 transplantes de doadores com mais de sessenta anos de idade.
Já em Mafra, no último ano, das 06 Notificações emitidas pela equipe do Hospital São Vicente de Paulo, duas resultaram em transplante, tendo havido a negativa de apenas uma das famílias de pacientes com morte encefálica. O Hospital São Vicente de Paulo não está cadastrado para transplantes, apenas para a captação de órgãos, para o qual disponibiliza seu Centro Cirúrgico e equipe necessária para auxiliar os profissionais da SC Transplantes.
Para a psicóloga Pollyana e a enfermeira Aline, há muito ainda que se conscientizar a comunidade sobre a importância da doação de órgãos. Desmistificando ditos populares, elas lembram que o paciente, após a morte encefálica, perde todas as sensações, e só tem o batimento do coração e a respiração funcionando, por força de máquinas a eles ligadas. “O paciente com morte encefálica não sente dor e não tem emoções ou até mesmo audição para ouvir o que para ele dizem, e esse mito tem deixado muitos familiares apreensivos na hora de autorizar a doação, o que deve ser esclarecido”, diz a psicóloga, lembrando que com esse gesto, muitas vidas podem ser salvas.
O que é morte encefálica?
É a morte do cérebro, incluindo tronco cerebral que desempenha funções vitais como o controle da respiração. Quando isso ocorre, a parada cardíaca é inevitável. Embora ainda haja batimentos cardíacos, a pessoa com morte cerebral não pode respirar sem os aparelhos e o coração não baterá por mais de algumas poucas horas. Por isso, a morte encefálica já caracteriza a morte do indivíduo. Todo o processo pode ser acompanhado por um médico de confiança da família do doador, e é fundamental que os órgãos sejam aproveitados para a doação enquanto ainda há circulação sangüínea irrigando-os, ou seja, antes que o coração deixe de bater e os aparelhos não possam mais manter a respiração do paciente. Mas se o coração parar, só poderão ser doadas as córneas.
Requisitos para um cadáver ser considerado doador de órgãos
– Ter identificação e registro hospitalar;
– Ter a causa do coma estabelecida e conhecida;
– Não apresentar hipotermia (temperatura do corpo inferior a 35ºC), hipotensão arterial ou estar sob efeitos de drogas depressoras do Sistema Nervoso Central;
– Passar por dois exames neurológicos que avaliem o estado do tronco cerebral. Esses exames devem ser realizados por dois médicos não participantes das equipes de captação e de transplante;
– Submeter-se a exame complementar que demonstre morte encefálica, caracterizada pela ausência de fluxo sangüíneo em quantidade necessária no cérebro, além de inatividade elétrica e metabólica cerebral;
– Estar comprovada a morte encefálica. Situação bem diferente do coma, quando as células do cérebro estão vivas, respirando e se alimentando, mesmo que com dificuldade ou um pouco debilitadas.
Após diagnosticada a morte encefálica, o médico do paciente, da Unidade de Terapia Intensiva ou da equipe de captação de órgãos deve informar a família de forma clara e objetiva que a pessoa está morta e que, nesta situação, os órgãos podem ser doados para transplante.
Parabéns para a familia, grande gesto de humanismo, penso que Deus vai confortá-los e deixar seu ente em paz!!!
Ótima reportagem, parabéns!!!
NOSSA QUE GESTO BONITO DA FAMILIA.
QUE DEUS DE MTA FORÇA A FAMILIA NESSA HORA.
E VALE RESSALTAR QUE TEMOS UM EXCELENTE HOSPITAL E MEDICOS..
PARABENS PELA REPORTAGEM.
ABRAÇO
ANA