Variantes do vírus da Covid-19: médico responde as principais dúvidas sobre o assunto

Por Assessoria - 26/05/2021

Muito se ouve falar sobre novas cepas do coronavírus que surgem pelo mundo todo, e que trazem inúmeras dúvidas e preocupações. Cepa indiana, inglesa, sul-africana, de Manaus… são diversas variantes, resultantes de mutações que acontecem em vírus o tempo todo. Quando surgem mutações vantajosas para a transmissão e infecção, essas variantes tendem a se espalhar mais e se acumular na população. E quanto mais pessoas os vírus infectam, mais eles se multiplicam, e mais mutações se acumulam.

Segundo David Schlesinger, médico geneticista e CEO da Mendelics, primeiro e maior laboratório brasileiro especializado em Sequenciamento de Nova Geração (NGS) que está ativamente sequenciando o vírus da SARS-CoV-2, uma mutação é capaz de fornecer novas características para o vírus, alterando a forma como ele se propaga, e a reação e efeito na pessoa infectada. “Estas novas cepas são rastreadas em tempo real por programas de vigilância genômica, que possuem compartilhamento de dados e plataformas colaborativas online”, explica David.

Abaixo, David responde às principais dúvidas sobre as novas cepas e a importância do sequenciamento genético para conter a pandemia, confira:

Qual a diferença entre mutação, variante e cepa?

R: Embora os termos mutação, variante e cepa estejam sendo frequentemente usados, quando se referem à epidemiologia do SARS-CoV-2, é importante distingui-los. Mutação refere-se à mudança na sequência do RNA do vírus que pode levar, também, a uma alteração na proteína resultante dele: por exemplo, D614G é uma substituição do ácido aspártico (D) por glicina (G) na posição 614 da proteína Spike (S). Variante viral se refere aos vírus que diferem em sua sequência de bases do RNA em uma ou várias posições. Devido à alta taxa de mutação, toda pessoa infectada possui múltiplas variantes virais no seu corpo, mas estas geralmente não prosperam e não têm vantagens de transmissão em relação às variantes predominantes na população. Ocasionalmente, estas variantes são transmitidas e detectadas na população. Estas variantes virais são então denominadas cepas ou linhagens e têm características comprovadamente diferentes, como por exemplo, uma diferença na transmissibilidade, patogenicidade ou na virulência, que é a capacidade do vírus de provocar uma doença grave.

Quais foram as primeiras variantes encontradas no Brasil?

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R: No Brasil, a epidemia se iniciou por duas variantes predominantes: a B.1.1.28 e a B.1.1.33. No final de 2020, variantes derivadas da B.1.1.28 se alastraram pelo país, as chamadas P.1 (Manaus) e P.2 (Rio de Janeiro). A variante P.1 foi a responsável pelo colapso no sistema de saúde no estado do Amazonas e hoje corresponde a aproximadamente 90% dos casos no Brasil.

Quantas e quais são as principais variantes do vírus circulando em solo brasileiro?

R: A principal variante no país é a P.1, presente em aproximadamente 90% dos casos sequenciados atualmente. A P.2 atinge cerca de 5%. Há também a B.1.1.7, que é a variante inglesa, e que causa aproximadamente 5% das novas infecções neste momento. Estas três variantes têm um comportamento muito similar em termos de transmissibilidade e de resposta imunológica, seja natural ou vacinal. Recentemente a Mendelics identificou as primeiras ocorrências da variante B.1.351, a variante sul africana, no Brasil. A resposta imunológica é menos eficaz contra esta variante – o organismo produz menos anticorpos contra ela. Entretanto ela apresenta transmissibilidade mais baixa que as outras linhagens e não está ganhando espaço na pandemia até aqui.

A vacina funciona também para as variantes?

R: Sim. Os testes feitos até agora mostram que as vacinas disponíveis e aplicadas no país protegem contra todas as variantes. O Chile, por exemplo, que também utiliza a Coronavac como principal vacina e cuja onda recente foi causada predominantemente pela P.1, teve mortalidade reduzida em mais de 80% pós-vacina.

Os testes disponíveis hoje detectam também estas variantes?

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R: Sim. Para estas variantes, a maior parte dos testes de laboratórios, como o nosso #PARECOVID, conseguem detectar normalmente. Monitoramos semanalmente as novas variantes para o surgimento de novas cepas.

Como o país poderia abrir novas frentes de enfrentamento da pandemia?

R: Sequenciamento genético é importante para o monitoramento do surgimento de novas cepas. Não importa mais se é P.1, P.2 ou B.1.1.7 (inglesa), essas já predominam. O que importa agora é continuarmos monitorando esta evolução daqui pra frente, porque podem surgir novas variantes a partir destas linhagens e que podem ter um perfil de transmissão diferente. Por isso é tão importante sequenciar em números substanciais todas as semanas e monitorar. Grandes centros como Butantan e USP, com o auxílio da Mendelics, têm feito isso com bastante eficiência e em volumes cada vez maiores.
Esta é a primeira epidemia da era genômica, com sequenciamento em tempo real. Por isso o mundo está aprendendo muito sobre a evolução viral em epidemias. Agora conseguimos aplicar este conhecimento e alterar o curso da pandemia, com vacinas e vigilância. Utilizaremos este aprendizado para evitar novas pandemias.

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