Um filósofo na Praça de Itaiópolis

Por Gazeta de Itaiópolis - 28/02/2020
Imagem ilustrativa/Site Cienciayletras

* Texto de Alexandre Henrique Germano

Diógenes de Sinope, ou também, o Cínico, em resumo, foi um filósofo que viveu pelo século IV a.C. Ele era discípulo de um pupilo de Sócrates, Antístenes. Nessa perspectiva, o suposto pupilo foi fundador da Filosofia Cínica, tal qual inspirou Diógenes para que ele se tornasse um filósofo excepcional. O filósofo citado é tão curioso e emblemático que não é nada incomum aparecer como referência em algumas histórias, filmes e textos. Com isso, para aproveitar o ano eleitoral, nada melhor do que ficcionar uma visita do filósofo ao Brasil.

Antes de tudo, vale dizer que a Filosofia Cínica não trata de mentiras, deboche e ausência de respeito, como seria o significado do cínico convencional. Na verdade, o Cinismo Filosófico prega a vivência em favor da natureza, da simplicidade e de fazer tudo isso uma virtude. Sendo assim, o homem, para os cínicos, deveria ser autônomo e autossuficiente diante da exterioridade do mundo, que há de ser tratada com indiferença por não representar a verdadeira felicidade. Para tanto, o Cinismo foi uma corrente muito presente no Império Romano. Há de se dizer que certamente influenciou, sutilmente, o Cristianismo.

No entanto, não é sobre uma corrente filosófica que este colunista de pouca experiência pretende espalhar. Soa coerente dizer que mais humildade por parte de todos não faria mal, mas isso não vem ao caso no momento. Ademais, o ponto alto desta coluna é sobre a ficção (que fique claro) de uma breve visita que Diógenes fez. Trata-se de quando o pobre coitado veio lá da Grécia até o Brasil, mais especificamente na praça da cidade de Itaiópolis.

Em Atenas, Diógenes costumava dormir em um barril, acompanhado de vários cachorros, pois são eles o maior exemplo de seres virtuosos. Afinal, os cães são fiéis, simples, verdadeiros, amigáveis e certamente sabem expressar o amor e o ódio. Não deixam os sentimentos escondidos, e seguramente exalam alegria em proporções perceptíveis ao mais desatento dos homens. Provavelmente é por isso que Diógenes os amava tanto.

Para mais, já na cidade de Itaiópolis, em Santa Catarina, como o despossuído (materialmente falando) filósofo não conseguiu encontrar um barril, resolveu dormir na casinha de madeira que foi construída para eventos de páscoa e natal, na praça. Curiosamente, no presente momento a casinha não está mais lá, foi removida antes do texto ficar pronto. Uma pena! Quanto aos cachorros, não foi muito difícil para o pensador arrebanhar. São vários animais abandonados pelas ruas, pois evidentemente não temos uma política pública que se importe com os coitados. Por outro lado, ressalto o memorável serviço das ongs, grupos locais e também a atitude individual de cada cidadão, isto é, de maneira empática e singela, há pessoas que disponibilizam um pouco de água, ração e eventualmente outros cuidados.

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Sobre Diógenes, não demorou muito para as autoridades locais se depararem com o novo “estorvo”. Ora, não era suficiente os três personagens de Alexandre Dumas (Os Três Mosqueteiros) andando pela praça, agora existia um filósofo louco? Quem será o próximo personagem épico?

Diante do pensador, alguns políticos ofereceram ajuda, mas Diógenes sentiu-se despachado como um sujeito sem valor. A suposta ajuda era uma passagem para outra cidade. Provavelmente para o Município de Mafra. Curiosamente, Diógenes gostaria de conhecer o restante do país, mas não antes de encontrar um sujeito honesto. Para isso, o pensador vagava pela praça com uma lamparina, dizia ele que a lamparina servia para auxiliar na procura do sujeito honesto.

De maneira cômica, mas não planejada, Diógenes chegou em pleno ano eleitoral, logo, acabou por conversar com vários candidatos. Decepcionou-se, pobre infeliz! Incansavelmente e de maneira indignada, pensava o filósofo: como alguém representaria a coletividade sendo tão bem servido pela sangria pública? Era curioso alguém receber (muito bem) para representar o povo. A atual política não fazia sentido para ele. Isso não soava como a política que os gregos conheciam. Na verdade, soava como uma espécie de escravidão consentida. De mais a mais, para o filósofo estava claro que a filosofia não era muito conhecida pelos homens modernos.

Aparentemente, quando o Cínico questionava alguns moradores locais sobre os governantes, a palavra política estava erroneamente categorizada como “construir estradas e tapar buracos”. Eis a nova definição de política! Enquanto democracia significava “deixar tudo nas mãos dos representantes eleitos”. Quanto conformismo! Porém, a culpa não é exclusiva de uma ou duas pessoas. O problema é maior. Tão grande que deixa de ser continental. É global.

Outro fator que contribuiu para o desânimo do filósofo, ninguém andava pela “ágora” (a praça, o local de encontro público da cidade) para discutir política. Por lá, apenas apareciam alguns jovens fumando, matando o tempo e ingerindo bebidas alcoólicas, sempre ao som de algum funk de péssima qualidade. Porém, não há razão para culpá-los! A juventude não desfruta de muitas opções para o lazer. O Estado falha com eles!

Quanto ao Cínico, a única solução foi voltar para sua terra. Talvez mudar de lugar, Corinto seria uma opção. Foi lá que ele morreu anos depois. Entretanto, triste e com a lamparina pelas mãos, para Diógenes nada mais fazia sentido. A política era tarefa e privilégio de alguns. Não era dever de todos. A música, uma catástrofe. A cultura, complexa demais. O novo mundo era novo, mas regresso demais. Em tese, era desastroso acreditar que havia muito o que se aprender com os antigos gregos. Diógenes pensou (e errou) que aprenderia com os homens modernos.

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Apesar disso, não foi em vão que Diógenes passou por Itaiópolis. Pois bem, a esperança é uma virtude visível e muito presente nos cachorros. O filósofo, que amava os cães, sabia disso, portanto persistia. Tanto é, que na sua curta estadia pela praça, influenciou alguns transeuntes (fui um deles) ao amor pela filosofia. Talvez só ela, a filosofia, junto com muita paciência, possa salvar a política, e mais tarde, o povo.

Portanto, eis um conselho: filosofia! Não nos contentemos com pouco. Jamais! Que sigamos questionando, pois filosofar não significa “viajar na maionese”. Trata-se de um conceito muito aberto, mas com limites mínimos. O principal requisito é o questionamento, a criticidade, ou seja, o desconforto pela obscuridade do desconhecido. Em resumo, que sejamos verdadeiros críticos e fujamos do conformismo. Aprendamos com os gregos e caminhemos para o aperfeiçoamento do que é proveitoso!

Post Scriptum 

Um adendo importante sobre a remoção da pequena construção de madeira que estava localizada na praça, talvez seja receio de outro filósofo aparecer por lá…

Não deixei claro no texto sobre Os Três Mosqueteiros. Na verdade, trata-se de um “apelido carinhoso” colocado sobre alguns ébrios habituais que frequentam constantemente a praça local. Logicamente, deixá-los largados na ágora da cidade não é uma atitude correta. Porém, evidentemente “não há” interesse público sobre isso. Também sou culpado, reconheço. Oportunamente, digo que Os Três Mosqueteiros são revolucionários, mas não é interessante romantizar a desgraça alheia…

Sobre o autor: Alexandre Henrique Germano, residente e domiciliado em Itaiópolis-SC. 21 anos. Estudante de Direito na Universidade do Contestado, campus Mafra. Estagiário no Fórum da Comarca de Itaiópolis-SC.

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2 COMENTÁRIOS

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    • É sempre um prazer causar descontentamento com a parcialidade política de algumas mentes carentes e "empobrecidas". Quero dizer, algumas delas até vagam por páginas "regionais" tentando ler somente aquilo que agrada, mas só encontram frustração. É um texto livre, uma ficção. Não é uma matéria, portanto, tenha bom senso, critique com fundamentos…

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