Ela estava disposta a resolver tudo: de uma vez ou aos poucos. Não importava! Mas era preciso enfrentar esse obstáculo que pairava ali à sua frente por dias, impedindo-a de seguir adiante e a fazendo passar pelo ridÃculo papel de desviar o assunto, buscar outras tarefas que absolutamente nem pensaria em fazer, só para evitar aquele monstro que se opunha e oprimia sua agenda, seus sentimentos, sua vida.
Ao fechar o armário do banheiro deu uma última olhada para conferir a maquiagem Ao sair viu no reflexo rápido um meio sorriso nos lábios – indefinÃvelse de confiança ou de tensão. Saiu!
A calçada estava fria, pessoas mal humoradas passavam esbarrando, sem se preocupar ao menos a um “sorry†ou um gesto que fosse. Agora, depois de cinco anos as coisas lhe pareciam mais objetivas: como essa cidade era fria, cinza, carrancuda. E pensava isso não porque ela própria estivesse de mau humor. Não! Pelo contrário, a decisão de poucas horas atrás a deixara leve, disposta, decidida e…feliz! Isso mesmo, feliz! Como era bom sentir-se assim depois de tanto tempo anestesiada pelas circunstâncias. Sentia-se livre das pressões familiares, dos sentimentos amorosos, dos compromissos financeiros. Tinha levado tudo muito a sério até então. Agora sentia que o ar gelado que lhe invadia os pulmões era mais do que um reflexo involuntário de vida. Era a manifestação de que o que lhe movia e afinal, lhe interessava de verdade, partia de dentro dela e não de fatores externos, quaisquer que fossem.
Esticou os braços para um táxi, sentou-se confortavelmente no banco traseiro e, quase sorrindo, lhe disse o destino.
Pelas ruas molhadas damanhã fria o motorista sonolento conduziu uma bela mulher pelas ruas da cidade. Sem saber que fazia o papel de Caronte no caminho de volta!