Uma história e um futuro
Costuma-se dizer que a data de aniversário é um momento de reflexão, ocasião onde fatos são relembrados e analisados, de forma que novas metas possam ser traçadas, assim como as ações que nos levarão a atingÃ-las, ou seja, aniversário é momento no qual se avalia o passado e planeja-se o futuro, para que o presente, vivido a cada dia, possa nos conduzir aos nossos objetivos.
Sei que quando trata-se do aniversário de uma cidade, por ela representar algo tão grande e diverso, talvez o fato possa parecer de pouca importância, uma coisa que parece merecer deferência mais pelo caráter cÃvico do que pelo afetivo, ou seja, um festejo impessoal, coletivo e frio.
Acredito porém, que o aniversário de uma cidade, da nossa cidade em especial, pode ser visto por outro ângulo, sob uma ótica que ao invés de conceber o fato como algo coletivo e impessoal, pode ser encarado pelo caráter agregador da coletividade, pois o municÃpio não representa apenas um nome e uma bandeira, mas algo maior, simboliza um o elo que une milhares de pessoas pelo fator comum que é a todas elas, transcendendo um mero escudo e território, consistindo em referência direta a toda sua população, seja do passado e quanto do presente.
Então entende-se que o municÃpio, que Mafra, é a representação de todos nós, pois esse nome e essa bandeira em verde, branco e vermelho representa todos aqueles que vivem, trabalham, estudam ou que de qualquer outra forma buscam nesta terra, tornar real aquilo que tem por sonhos e esperanças.
Portanto o aniversário de Mafra é um momento de reflexão coletiva, do que fizemos e queremos para o nosso futuro e que, como Mafra é o sÃmbolo comum, que une a todos nós, são as nossas ações que fazem dela o que é e o que será, estando assim o futuro nas nossas mãos de cada mafrense.
A sÃntese de uma longa história
Foi sobre o lombo dos cavalos dos tropeiros, que conduziam gado e muares do Rio Grande do Sul à s feiras de Sorocaba, que Mafra surgiu em seu elemento inicial. De pedaço de sertão habitado por Ãndios, de caminho das tropas rasgado pela Estrada da Mata e, sob o olhar atento do Barão de Antonina, que a nossa história começou a ser escrita.
Colonizada por imigrantes alemães vindos da cidade de Trier em 1829, este chão, anos depois foi ponto de partida de militares à Guerra dos Farrapos, época em que a “peste†disseminada pelos soldados, ceifou mais de 2.000 vidas em nossa terra, levando a uma desolação só confortada pelas orações e cruzes erguidas por obediência aos conselhos do Monge João Maria, colocadas entre a capela e o rio Negro em 1856.
A exemplo dos alemães, Mafra acolheu colonos da distante ProvÃncia Bucovina no Império Austro-Húngaro, antes de tremer com o rugir dos canhões de Pica-Paus e Maragatos e, arder sob os tiroteios travados pela disputa pela passagem pela balsa sobre o rio, durante a Revolução Federalista. Sendo na seqüência, tomada pelos revolucionários gaúchos para depois ser marcada pelas degolas promovidas pelo exército republicano.
Esteve em meio a disputa entre Santa Catarina e Paraná na questão do Contestado, viu-se envolvida pela guerra, na qual sofreu a incursão de bandoleiros e colocou-se à disposição das tropas de cerco do General Setembrino de Carvalho, participando inclusive de combates, por meio do batalhão do Coronel Nicolau Bley Netto.
Mas então, a 8 de setembro de 1917, após o acordo de limites que pôs fim à questão do Contestado, que Mafra nasceu como municÃpio, passando com isso a dirigir-se e a seguir caminho próprio, agora de forma independente, porém sempre próxima da cidade irmã de Rio Negro.
Mafra foi marcada pelo cultivo da erva-mate, pela perda do território que forma hoje o municÃpio de Itaiópolis, pelo transporte de cargas e passageiros através de embarcações pelo rio Negro, pela participação de vários mafrenses na 2ª Guerra Mundial, integrantes da Força Expedicionária Brasileira, pela construção da estrada de ferro e das rodovias BR 116 e BR 280.
Sempre com uma vida polÃtica muito agitada, Mafra acompanhou e participou de muitas das principais mudanças ocorridas no cenário polÃtico brasileiro, como toda a movimentação ocasionada por ocasião de Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao Poder e que encontrou aqui voluntários que compuseram o Batalhão Patriótico do Coronel José Severiano Maia.
Mafra compartilha com seus mais de seus 50.000 habitantes e tanto outros que aqui trabalham ou estudam, um passado fascinante, repleto dos mais variados acontecimentos e personagens, história que pertence a cada mafrense, a quem cabe escrever os próximos capÃtulos dessa trajetória.
Manoel da Silva Mafra
Quem é o Conselheiro que empresta seu nome ao nosso municÃpio
Mais do advogar em favor de Santa Catarina na questão do Contestado, Manoel da Silva Mafra, o homem que empresta seu nome a nossa cidade, teve uma trajetória profissional intensa, marcada por sua atuação jurÃdica e polÃtica:
Nascido em 12 de outubro de 1831 em Florianópolis-SC, Manoel era filho de Marco Antônio da Silva Mafra e Maria Rita da Conceição Mafra.
Bacharelou-se em direito pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1855, sendo Promotor Público de São José entre 1855 e1857, Juiz Municipal e dos Órfãos em Florianópolis, advogou no Rio de Janeiro, foi Juiz de Direito em Pernambuco, Paraná e em Minas Gerais;
Foi Deputado na Assembleia Legislativa Provincial de Santa Catarina por 05 legislaturas (13ª, 17ª, 19ª, 22ª e 25ª), Presidente da ProvÃncia do EspÃrito Santo de 1878 a 1879 e Ministro da Justiça em 1882, quando passou a ser conhecido por “Conselheiro Mafraâ€;
Foi ainda Juiz do Tribunal Civil e Criminal no Rio de Janeiro, função na qual passou à aposentadoria, ocasião em que voltou à advocacia, sendo nomeado em 1894 pelo Governado Catarinense HercÃlio Luz, para defender Santa Catarina na questão de limites com o Estado do Paraná.
Faleceu em 11 de março de 1907, sem assistir ao desfecho da questão Contestada, mas deixando como contribuição, além de uma brilhante atuação nos tribunais, a obra “Exposição Histórico-JurÃdica por parte do Estado de Santa Catarinaâ€, base da defesa catarinense e vital para o ganho da causa a que se dedicou.
Leis curiosas
Normas que não resistiram ao tempo
A mudança do contexto sócio/tecnológico/cultural ocorrido naturalmente ao longo de mais de 90 anos fizeram com que normas do 1° Código de Posturas do MunicÃpio, publicado em 1918 (já revogado, é claro!), assumissem, uma conotação “absurda†ou no mÃnimo “curiosa†aos olhos de um leitor nos dias de hoje. Vejamos alguns exemplos:
– Nos caminhos dos cargueiros, as cancelas e portões que existirem serão construÃdos de modo que um cavaleiro possa abrir e fechá-los sem se apear.
– É Proibido (à carroceiros e condutores): Proferir palavras obscenas em qualquer ocasião no seu trânsito pelas ruas da cidade ou povoação.
– É Proibido: Colorir doces ou massas com anilinas.
– É Proibido: Vender carnes depois das três horas da tarde no verão.
– É Proibido: Fazer sambas e batuques, quaisquer que sejam as denominações, dentro das ruas da cidade ou povoações.
Apesar de curiosas aos nossos olhos, essas normas representam um interessante recorte histórico, importante para a compreensão de nossa Mafra em seus primeiros anos, refletindo um pouco da mentalidade e organização da sociedade daquela época.
Terra de todas as gentes
Não é de hoje que o solo mafrense representa esperança de dias melhores a quem aqui fixa raÃzes. A busca de progresso pessoal que hoje move nossa população e representa o motor do próprio desenvolvimento do municÃpio, também alimentou os sonhos de centenas de pessoas que ao longo do tempo aqui se estabeleceram, buscando fazer daqui a base de um futuro promissor.
Basta lembrar de nossas raÃzes étnicas, tropeiros, alemães, bucovinos, poloneses, ucranianos e tantos outras pessoas, povos de diferentes origens e culturas que optaram, cada qual por seus motivos, em aqui se estabelecer, aceitando enfrentar os desafios de sua época, com natural receio e medo, mas com coragem em encará-los e a certeza de que somente seriam superados com muito sacrifÃcios. Trabalho e esforço, tanto laboral quanto de sua própria capacidade de adaptação à nova realidade, o idioma, o clima, os costumes e com isso a própria aptidão e disposição de sociabilizar-se, integrar-se à s demais pessoas, em conviver pacificamente e produtivamente, sabendo que isso era fator básico do próprio progresso e por conseqüência do municÃpio que escolheram.
A herança desses povos, além de refletir-se fisicamente no semblante da nossa população e nas várias tradições cultuadas até hoje, também se reserva ao próprio espÃrito com que eles aceitaram e enfrentaram o desafio de viver aqui, uma forma de encarar a vida que também nos cabe ter como exemplo.