A cidade de Rio Negro outrora pertencente a São Paulo, como parte integrante da antiga Comarca de Paranaguá e Curitiba, hoje Estado do Paraná, era habitada nos seus primórdios pelos índios botocudos, que dominavam as matas da encosta marítima da Serra do Mar até o rio Timbó, nas bacias dos rios Negro e Iguaçu ao norte, até o rio do Peixe, na Bacia do Pelotas, ao sul.
Esta região era atravessada por tropeiros que conduziam o gado de Viamão, Rio Grande do Sul, à Sorocaba, em São Paulo. Devido aos prejuízos vultuosos e perigos causados pelos difíceis caminhos abertos pelo próprio gado, em 1816 os tropeiros requerem junto a D. João VI a abertura de uma estrada ligando a Estrada do Campo do Tenente (Lapa), no Paraná, à Campo Alto (Lages), em Santa Catarina.
O que existia com o nome de “Estrada da Mata” era tão somente uma vereda aberta pelo próprio gado, só trilhada quando necessário. A história de Rio Negro confunde-se com a da “Estrada da Mata”, aonde passavam os bravos tropeiros, conduzindo o gado.
Em 1826 é iniciada a construção da “Estrada da Mata”, sendo João da Silva Machado, futuro “Barão de Antonina”, o responsável pela obra e fiscalização dos trabalhadores.
Depois dos tropeiros foram chegando os imigrantes a então “Capela da Mata”. A elevação da Capela Provisória à Capela Curada data de 26 de julho de 1828. Rio Negro passou de Capela Curada à Freguesia do Senhor Bom Jesus de Rio Negro em 28 de fevereiro de 1838 e, elevada à Vila, em 02 de abril de 1870.
No dia 15 de novembro de 1870 fez-se a primeira eleição de vereadores e a 15 de novembro do mesmo ano deu-se a instalação do Município de Rio Negro, com a posse da primeira Câmara de Vereadores.
Em 1916, com o fim da Guerra do Contestado, foi estabelecido o acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina, e parte do município de Rio Negro foi desmembrada originando as cidades de Itaiópolis, Três Barras e Mafra.
Tropeiros
Em Rio Negro existe o Clube de Tropeiros “Estrada da Mata”, que tem por objetivo resgatar a história dos tropeiros e do município, como surgiram, quais os primeiros moradores, sua etnia e manter um relacionamento de confraternização, amizade e lealdade, preservando os costumes e tradição do tropeirismo.
Os alemães
Em Rio Negro, onde existia um pequeno povoado com o nome de “Capela da Estrada da Mata” com 108 moradores em 1828, localizaram-se famílias alemãs, que teriam embarcado no veleiro alemão Charlote Louise em 30 de junho de 1828, portanto de conformidade com os planos do Governo Imperial em atrair imigrantes europeus ao nosso país. Apesar de terem aportado no Rio de Janeiro em 02 de outubro, somente em janeiro de 1829 chegaram em Antonina, e seu destino foi alcançado em 06 de fevereiro de 1829.
Houve duas remessas de colonos alemães para Rio Negro, a pedido do Barão de Antonina que, “para garantir a subsistência própria, tiveram de derrubar as matas, deslocar terras para revolvê-la e plantar o cereal necessário à vida”. Com a chegada desses colonos, a povoação ganha impulso e cria um movimento notável para a época.
Os bucovinos
A origem dos bucovinos está na Baviera (Bayerischerwald), sul da Alemanha, de onde emigraram para o Böhmerwald (na Boêmia, atualmente República Tcheca) em fins do século XVIII. Em 1838/1840, foram para a Bucovina, hoje Romênia.
Em 1887 e 1888, imigraram para o Brasil, em duas levas, mais especificadamente, Rio Negro (PR) num total de 77 famílias, 377 pessoas onde realizaram as tarefas de desbravamento, a começar pela derrubada das matas para o plantio e estabelecimento de sua cultura. Os bucovinos ocuparam largo setor de atividades econômicas conquistando relativa prosperidade, conservando, porém, algumas características específicas, representadas, sobretudo pela língua, tradições e costumes.
Os poloneses
Em 1890 Rio Negro recebeu uma grande leva de colonos poloneses destinados à colônia Lucena, então pertencente a Rio Negro.
Hoje a antiga colônia pertence ao próspero município de Itaiópolis, Santa Catarina, desmembrado de Rio Negro através do Acordo de Limites entre Paraná e Santa Catarina, em 1916.
Os imigrantes poloneses marcaram sua forte presença no município em 1891. Alojaram-se em um barracão, às margens do rio Negro, onde viviam com imigrantes de outras origens em condições precárias. Foram surpreendidos por uma enchente avassaladora, quando o representante dos imigrantes, registrava em cartório um ou dois mortos, todos os dias. Assim as epidemias causadas pós-enchente mataram mais de trezentos imigrantes poloneses, sem contar os que foram mortos por ocasião do Cerco da Lapa, quando lutaram como verdadeiros heróis.
O próprio “rio Negro”
O rio Negro é um rio brasileiro da bacia hidrográfica do rio Paraná, que banha os estados do Paraná e de Santa Catarina, fazendo parte da divisa entre estes estados, por toda sua extensão.
Nasce na Serra do Mar a menos de 20 quilômetros do Oceano Atlântico, mas corre de leste para oeste numa extensão de mais ou menos 300 quilômetros, recebendo como afluentes principais pela margem esquerda o rio Bateias, rio Preto, os dois rios chamados rio Negrinho, o rio São Bento, o rio da Lança entre outros. Pela sua margem direita recebe o Rio da Várzea, o rio Piên, o rio Passa Três. Próximo à cidade de Canoinhas, aflui o rio Canoinhas. Acaba por se unir ao rio Iguaçu.
Importante fonte de água para os municípios por onde passa, no passado foi navegável em boa parte de seu leito e era usado no transporte de erva mate. É fonte de areia para construção civil, sendo minerada nas vargens marginais assim como na própria calha do rio (nesta já não é tão frequente como foi no passado). Também é explorada a argila de suas margens para uso na indústria cerâmica. Já foi personagem de grandes enchentes, destacando-se as dos anos de 1983 e 1992, quando chegou a atingir a marca de mais de 18 metros. O rio Negro, neste trecho, tem qualidade da água avaliada pelo Instituto Ambiental do Paraná – IAP como classe 02, ou seja, pode ser utilizada para o consumo desde que adequadamente tratada, tarefa essa de responsabilidade da Companhia de Saneamento do Paraná – Sanepar.
Entre os municípios de Rio Negro e Mafra, existem a ponte metálica Dr. Dinis Assis Henning, a ponte Coronel Rodrigo Ajace e a ponte interestadual Engenheiro Moacyr Gomes e Souza na BR-116, conhecida como “ponte dos peixinhos”. O rio Negro possui grande variedade de peixes – lambaris, bagres, mandis, traíras e carpas, sendo que estas chegam a pesar mais de 20 kg.
Conheça alguns pontos turísticos da cidade
Trilhas: De aproximadamente 4.830 m, sendo usada anteriormente pelos antigos franciscanos. Atualmente as pessoas vão fazer caminhadas e educação ambiental. Pode-se vislumbrar a Gruta Nossa Senhora de Lourdes e o antigo Campo Santo onde no passado eram sepultados os padres que viviam no seminário.
Centro Ambiental Casa Branca: Voltado para os estudos e pesquisas da fauna e flora locais, oferece informações e atividades na área ambiental para integração da comunidade com os recursos naturais do parque.
Seminário Seráfico São Luiz de Tolosa: Exemplar mais significativo da arquitetura municipal, tem suas origens ligadas à história e a cultura não só do município, mas de toda a região. Construída em arquitetura alemã, com o interior em estuque, isto é, uma mistura de gesso, água e cola, sobre uma camada de lâmina de madeira. Com 7200 m distribuídos em três pavimentos, sendo que, sua pedra fundamental foi lançada em 1918, e a construção concluída em 1923.
Capela Cônego José Ernser: Localizada no antigo Seminário. Sua arquitetura é de estilo eclético, seu interior é constituído de pintura mural em técnicas de óleo sobre tela, têmpera mural e pinturas feitas à base de cal, no período de 1932 a 1935 por Pedro Cechet. Restaurada, foi reinaugurada em 2000.
Presépio em Palha de Milho: Obra do artista alemão Meinrad Horn, o maior presépio em palha de milho do mundo, conta com aproximadamente 1.700 personagens, fora as peças que compõem o cenário criado com palha de milho, isopor, madeira e tecido. A obra objetiva transportar os visitantes para a cidade de Belém dos tempos do nascimento de Jesus. Aberto ao público desde novembro de 2000 é uma verdadeira obra prima pela riqueza de detalhes.
Loja de Artesanato: Pertencente a ASSOART: Comercializa artesanato além de produtos locais. Procedimentos para visitação.
Ponte Metálica “Dr. Diniz Assis Henning”: As duas margens do rio, que após a questão do Contestado, passaram a pertencer à margem direita ao Paraná e a margem esquerda a Santa Catarina, formando assim os municípios: Rio Negro (PR) e Mafra (SC).
Igreja Matriz Senhor Bom Jesus da Coluna: É um dos templos católicos mais belos do Paraná. Construída e inaugurada em 1916 pelo padre José Ernser. A Praça da Igreja foi feita por ocasião do Centenário da Colonização Alemã (1929) e os três sinos de aço da torre foram adquiridos na Alemanha em 1930.
Igreja Nossa Senhora Aparecida: Inaugurada em 12 de junho de 1979, o projeto leva o nome do arquiteto Rubens Meister, de linhas arrojadas, representa uma cápsula de foguete espacial. Localiza-se no Bairro Bom Jesus.
O caminho até a emancipação
Uma obra pública revindicada a longa data, essencial à impulsão do comércio e desenvolvimento de toda uma região, cujo construtor foi indicado politicamente e, que devido a questões políticas levou seis anos desde a emissão da ordem de construção até ser realmente iniciada, a descrição, que a princípio parece tratar-se de algo bem atual no Brasil, na realidade marca o princípio da história rionegrense, que pode ser contada desde a construção da Estrada da Mata.
Para entender o caminho que o município de Rio Negro percorreu até sua emancipação em 1870, se faz necessário lançar olhares para um período um pouco mais distante no tempo, época na qual a necessidade de abertura de uma estrada rasgando o desabitado sertão do sul, levou à fundação daquele povoado às margens do rio Negro.
A precariedade de antigos caminhos traçados em regiões desabitadas, ligando o Rio Grande à São Paulo, assim como ocasionar demora à viagem, oferecia grandes riscos, como a falta de assistência e inclusive o ataque de índios. Isso fez com que proprietários das tropas de gado e muares, conduzidas de Viamão até as feiras de Sorocaba para serem comercializadas, fizessem da construção de uma estrada ligando as duas províncias, uma revindicação de longa data junto às autoridades políticas.
Após algum tempo, o pedido mereceu a atenção do rei de Portugal, Dom João VI, que residente no Brasil desde 1808, ordenou ao Governador de São Paulo, em 1820, a construção do chamado Caminho da Mata do Campo do Tenente (Lapa) à Campo Alto (Lages), sendo por este, indicado o nome de João da Silva Machado (futuro Barão de Antonina) como responsável para a concretização tal tarefa. Um obra que além da abertura da estrada em meio à mata, exigiria a construção de pontes e pontilhões sobre os mais de 120 cursos d’àgua existentes no caminho e a necessidade de proteção aos trabalhadores, uma vez que, segundo palavras da época, a zona estava “infestada de gentios” (índios).
Porém, a colocação do intuito em prática teve que aguardar mais algum tempo, pois grandes mudanças na política nacional marcariam o período: Dom João retornou à Portugal em 1821, para manter a coroa lusitana, Dom Pedro, seu filho, permaneceu como Príncipe Regente e proclamou a independência brasileira no ano seguinte (tornando-se imperador), o que resultou em mudanças administrativas e políticas no país agora independente.
Em 1825, o Presidente da Província de São Paulo (vale esclarecer que o território paulista fazia fronteira com o Rio Grande do Sul) emitiu ordem para a criação para a criação de uma povoação no sertão e, somente no ano seguinte, com aprovação do projeto de construção, nomeção do Barão de Antonina como administrador e, a construção do Abarracamento do “São Lourenço” (na atual localidade mafrense de mesmo nome), é que finalmente a Estrada da Mata passa efetivamente a ser construída.
Com a transferência da sede dos trabalhos para as proximidades do rio Negro, ergueu-se em 1828, na margem esquerda, nas proximidades do local onde atualmente acha-se a praça Hercílio Luz, a capela Curada, reforçando o povoamento local, que contava naquele momento com mais de 160 residências. Em 1829, juntaram-se àquela povoação em formação, centenas de imigrantes alemães vindos da cidade de Trier, assim como o Registro (fiscalização) das tropas foi transferido de Curitiba para Rio Negro.
O crescimento da população fez com que em 1838, Rio Negro passasse da condição de Capela à Frequesia (Paróquia), com a criação, por decreto, da Freguesia do Senhor Bom Jesus do Rio Negro no município de Vila do Príncipe (uma vez que seu território pertencia à Lapa), demonstrando bem o alinhamento da estrutura civil à estrutura religiosa católica existente durante o período imperial – à época as províncias (estados) eram divididas em Vilas (municípios), que por sua vez eram divididas em Freguesias (Paróquias.)
Mas foi em 1870 que Rio Negro obteve sua autonomia. Em 02 de abril a Assembléia Provincial do Paraná decretou a criação do município, elevando a até então Freguesia à categoria de Vila, procedendo-se então (15 de setembro) a eleição dos membros da primeira Câmara Municipal, presidida pelo Comendador João de Oliveira Franco.
A 15 de novembro de 1870, com a realização da solenidade de posse dos camaristas (vereadores) eleitos, na Câmara da Vila do Príncipe, que a emancipação política oficializou-se, assim, agora como Vila, a antiga Freguesia adquiria a sua autonomia político-administrativa, passando a constituir a Câmara de Vereadores, órgão que indicava a existência da célula político-administrativa, com direito de cobrar impostos, editar leis, constituir comarca e possuir delegacia.
Texto por Fábio Reimão de Mello (Professor e Historiador)
A Rio Negro do século XIX
Compor em nossa mente um cenário que retrate Rio Negro na época de sua emancipação (1870) é com certeza um desafio, não somente pelos dados históricos que um texto com tal objetivo deve conter, como também por outros fatores, como a clareza, a simplicidade e mesmo a credibilidade de quem relata aquele momento, o que ainda pode ser somado ao fato de ter sido escrito na época em questão, por pessoas que viveram aquele momento histórico, o relatório enviado em 1887 pela Câmara de Rio Negro, então presidida por João Vieira Ribas, ao Presidente da Província do Paraná (Governador do Estado), Joaquim d’Almeida Faria Sobrinho, constitui-se em relato que permite a visualização do contexto rionegrense no final do século 19.
Com essa finalidade, o texto, com as adaptações necessárias à melhoria de sua compreensão, é transcrito a seguir:
A população desta Paróquia, que é dividida em vinte e sete quarteirões, é de cerca de 8.000 almas; a área do terreno da Paróquia é calculada em trezentas léguas quadradas (quase 7.000 km2). Existem além da Vila, os povoados seguintes: Campo do Tenente, Lençol, Piên. Além destes povoados temos muitas outras reuniões de casas formando pequenos bairros por todo o Município.
Esta Vila está situada em ambas as margens do rio Negro, que dá nome a esta Vila; faz-se o trânsito de uma a outra margem em canoas e uma balsa, existe um passador pago, tudo sob custeio da Província, é sensível a falta de uma ponte sobre o rio.
Temos uma igreja na margem direita e embora seja pequena, é uma construção sólida e limpa, sendo o padroeiro dela o Senhor Bom Jesus da Coluna.
Esta Vila dista do município mais vizinho (cidade da Lapa) 44 quilômetros, percorre a zona entre ambos os municípios, uma estrada carroçável, tendo sobre o rio denominado da “várzea”, uma ponte importante (calcula-se em 500 metros de extensão) construída de madeira. Temos a estrada denominada “da mata” por onde transitam tropas de cargueiros e alguns milhares de animais cavalares e muares que vem do Sul e se dirigem à Feira de Sorocaba, onde são vendidos (na Província de São Paulo). Temos outra estrada que se dirige à Colônia de São Bento e Província de Santa Catarina, onde há um grande trânsito devido ao comércio do mate.
Neste Município dedicam-se à lavoura, plantam milho, feijão, centeio e fumo, também criam animais vacuns, cavalares e muares. Em 1828 já existiam alguns moradores neste Município, todos brasileiros. Por Portaria do Bispo D. Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, a favor do Sargento-Mor João da Silva Machado, mais tarde Barão de Antonina, datada de 22 de junho de 1828, foi construida uma capela com a denominação de “Capela da Mata do Caminho do Sul”, que foi em 1859 transferida para a margem direita, onde acha-se atualmente.
Em 1829, a 6 de fevereiro, chegaram a este ponto 12 famílias alemãs, todas naturais de Trier, num total de 60 pessoas, sendo 23 maiores e 37 menores. Em novembro do mesmo ano, chegaram mais 17 famílias, com setenta e nove pessoas, 39 maiores e quarenta menores, sendo portanto, 139 pessoas ao todo que foram aqui lançadas no meio das feras e sem recursos; entretanto trataram de ganhar a vida, indo alguns, na hoje cidade da Lapa, trabalhar como pedreiros vencendo a diária de 200 Réis! Depois de uma semana de serviço juntaram o salário de todos e compraram uma quarta de farinha e uma de feijão e veio um distribuir pelas famílias. Este quadro conquanto triste e pareça pintado com cores negras, todavia é a expressão da verdade e funda-se em dados históricos.
Foi elevado este Município à Freguesia pela lei de São Paulo n° 17 de 28 de fevereiro de 1838 e à Vila pela lei provincial (do Paraná) n° 219 de 02 de abril de 1870 e, instalada em 15 de novembro do mesmo ano.
São estas as informações que a Câmara pode ministrar a Va. Exa., se são incompletas é devido a deficiência de dados históricos. Deus guarde a V. Exa. Paço da Câmara Municipal de Rio Negro, 03 de outubro de 1887.
Pesquisa por Fábio Reimão de Mello (Professor e Historiador)