Quando se fala em aeroporto ou mesmo se usa o termo campo de aviação aqui em Riomafra, logo vem a mente o nosso “Aeroporto Hugo Werner” (que recebeu esta denominação no ano 2000, quando até então era chamado apenas de Campo de Aviação), localizado no bairro do Faxinal, que conta com uma pista de piso de grama, com medidas de 920 metros de comprimento por 99 metros de largura.
O que pode não ser tão nítido na lembrança é que este não é o primeiro aeroporto que nossas cidades já possuíram, pois antes do Faxinal, era o São Lourenço a sede de nosso “Campo de Aviação”.
“Campo” construído na década de 1930, em um local alto, plano, de piso gramado (a exemplo do Hugo Werner) que recebeu seu primeiro pouso quando ainda encontrava-se em construção, no dia 6 de dezembro de 1934.
Talvez, entre todas as aeronaves que por ali passaram durante o tempo em que esteve em operação, a mais marcante tenha sido a que aterrissou na manhã de 30 de março de 1957, trazendo o então presidente da República.
Naquele dia, o presidente Juscelino Kubitschek e sua comitiva, da qual integrava o Ministro da Guerra, o General Henrique Teixeira Lott (que seria candidato à presidência nas eleições de 1960), foram recepcionados pelo comandante do Batalhão Mauá, coronel Antônio Negreiros de Andrade Pinto e por autoridades locais, seguindo a Rio Negro para uma recepção na sede do 2º Batalhão Ferroviário e, em seguida para a inauguração de um trecho ferroviário construído por aquela Unidade Militar.
Anos depois, a abertura e pavimentação da BR 116 (que ocorreu na mesma década de 1950) somada a certas condições atmosféricas relativas à ocorrência de ventos, que segundo alguns relatos, seriam fatores complicadores para pousos e decolagens no local, levaram o Campo de Aviação, do São Lourenço para o Faxinal.
Mas, se engana quem pensa que o Campo de Aviação do São Lourenço foi a primeira pista de pouso de aviões construída em Riomafra, pois a outro caso mais antigo, e também curioso.
Em 1914, em meio à Guerra do Contestado que agitava nossos Estados do Paraná e Santa Catarina, o general Setembrino de Carvalho assumiu o Comando Geral das Operações Militares, reorganizando as tropas e adotando uma nova estratégia de ação: As tropas seriam dispostas em Colunas, como grandes linhas à Norte, Sul, Leste e Oeste da área conflagrada que, em cerco, isolariam o território do conflito e convergindo para o centro, poriam fim à resistência cabocla.
Nesse contexto, Riomafra de uma cidade desguarnecida, sujeita à incursão de bandoleiros, se tornou Sede da Coluna Leste, composta pelo10º Regimento de Infantaria, Regimento de Segurança do Paraná, duas Seções da 2ª Companhia de Morteiros, um Pelotão do 14º Regimento de cavalaria, uma Seção do 2º Regimento de Artilharia Montada, uma Seção de Ambulâncias e um Pelotão de Trens.
Ainda, em apoio às tropas aqui sediadas inicialmente, foram criados órgãos de apoio, como os Armazéns de Campanha (responsáveis pelo abastecimento de gêneros), o Hospital de Sangue (com ala médica e cirúrgica), a Estação de Telégrafo e, uma pista de pouso disponível aos aviões que seriam empregados na guerra.
Aviões que servindo de apoio às operações terrestres, realizando missões de reconhecimento sobre a área em conflito, ficaram a cargo da condução do tenente (do Exército) Ricardo Kirk, que dirigiu pessoalmente a construção das três pistas de pouso que deveriam ser utilizadas pelas aeronaves. Pistas estas, que medindo cerca de 50 metros de largura por apenas 150 metros de comprimento, foram preparadas em União da Vitória, Canoinhas e em Rio Negro, onde também foi levantado um hangar fechado com lona, com porta de 12 metros.
Porém, os aviões da guerra do Contestado nunca viriam a pousar no campo de aviação riomafrense, pois as operações aéreas do conflito foram canceladas pouco tempo depois, após a queda que vitimou o próprio tenente Kirk em 1º de março de 1915, causada por uma pane mecânica somada a más condições meteorológicas.
Assim, da Guerra do Contestado, passando pelo Campo de Aviação do São Lourenço, até o aeroporto Hugo Werner, lá se vão 100 anos.