Contato difícil: a situação de enfrentamento em que foram colocados nossos índios e colonizadores

Por Fábio Reimão de Mello - 10/09/2014

Imagine você levando normalmente sua vida, na habitual rotina do dia-a-dia, quando num belo dia, você percebe que, “um monte” de gente, sem avisar ou pedir qualquer tipo de autorização, começa a usar a sua propriedade como estrada. Algo que, no mínimo, lhe causaria uma grande indignação.

Mas, pior ainda, seria perceber que “de uma hora para outra”, alguém totalmente estranho está morando em seu terreno e esse alguém, não está sozinho, fazendo parte de um grupo de pessoas que ali estão construindo suas casas, derrubando árvores e, ignorando totalmente a sua existência.

“Ignorando sua existência” até que você resolva fazer uma aproximação, aquele contato que ninguém fez até agora e sua recepção seja não muito amistosa, como se quem estivesse errado em toda aquela situação fosse você.

Caso colocando-se na situação descrita você sentiu ao menos “um pingo de indignação”, imagine o que os indígenas que viviam nesta região (cujos vestígios são encontrados até hoje em diversos locais de nossos municípios, como pontas de flecha, machadinhas, facas, lanças, mãos de pilão e fragmentos de cerâmica) sentiram quando viram isso realmente acontecendo, a sua terra sendo “invadida” e “tomada” por pessoas hostis e de hábitos estranhos.

Contato difícil a situação de enfrentamento em que foram colocados nossos índios e colonizadores (1)Nessas terras banhadas pelo rio Negro, ou rio Una, como os próprios índios o chamavam, e em toda a nossa região de uma forma geral, o contato entre índios e colonizadores não ocorreu de maneira amistosa, o que talvez se possa atribuir à forma com que o contato entre eles aconteceu: A ocupação de terras habitadas por indígenas, vistos como empecilhos ao desenvolvimento, o loteamento e instalação de imigrantes, “jogados” ali sem estrutura e sem segurança, colocava uns contra os outros (índios x colonos), em verdadeira condição de enfrentamento.

Cada qual com suas razões, que são perfeitamente compreensíveis, mas que naquele momento se confrontavam, buscando-se um afastar ou afugentar o outro, ações que por vezes se manifestaram por meio de ações violentas, dando origem à vários casos que se conhece hoje.

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Assim, não são raros os relatos de confrontos entre índios e imigrantes instalados na colônia Lucena (atual Itaiópolis, na época território riomafrense) e seus arredores, de ataque às precárias moradias dos imigrantes construídas logo após sua chegada, defendidas à bala e à fio de facão, ao mesmo tempo que outras narrativas contam também a morte de índios por aquelas e estas matas.

Contato difícil a situação de enfrentamento em que foram colocados nossos índios e colonizadores (2)Assim como várias são as histórias contadas sobre confrontos violentos entre índios e colonizadores, relatos narram também que houve tentativas de um contato não violento, com respeito. Se a visita de índios junto às casas de colonos, ou simples reconhecimento das casas dos invasores (depende o ponto de vista), era fonte de perigo para ambos, algumas práticas acabaram se revelando bem amistosas, como a colocação de comida, bebida, fumo e até cachaça junto às casas como presente aos indígenas, que retribuíam deixando também artefatos seus, numa bela política de boa vizinhança. Aproximação que com o passar do tempo, possibilitou, em alguns casos, a própria união de ambos os lados na constituição de novas famílias.

Assim, a situação de enfrentamento em que foram colocados nossos índios e colonizadores parece ter sido, ao menos um dos motivos do difícil contato que se estabeleceu entre essas culturas, uma dificuldade, por vezes e vezes “violenta”, mas que também encontrou a sua exceção no bom senso existente em ambos, afinal todos, de certa forma, foram vítimas de uma mesma situação.

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