Apesar das enchentes do rio Negro serem até algo comum ao Riomafrense, sendo a invasão das águas à praça do expedicionário (próximo ao rio da Lança), na ligação das ruas Severiano Maia e Marechal Floriano em Mafra, ou então a cobertura da rua Rio de Janeiro (na Vila ParaÃso) em Rio Negro (para citar alguns pontos centrais), constituÃrem-se em fatos nem um pouco estranhos para nossa população, grandes enchentes marcaram a história de nossas cidades, sendo objeto tanto de registro, memória e até monumento em praça pública.
Foi em julho de 1983 que Riomafra viveu a maior enchente registrada de sua história, com o rio Negro atingindo 14,57 metros acima de seu nÃvel normal, o que causou a inundação de inúmeras ruas, atingindo alguns bairros em quase sua totalidade, destruindo casas e edificações, prejudicando a ligação entre Rio Negro e Mafra, pelo alagamento do acesso e consequente interdição das pontes Dr. Diniz Assis Henning (metálica) e Rodrigo Ajace (nova), além de bloquear trechos da BR 116 a  menos de 2 quilômetros depois da ponte (ainda transitável) sobre a rodovia. Esta enchente possui marco de seu nÃvel máximo na praça do Expedicionário em Mafra, o que pode lembrar ou mesmo dar uma noção da dimensão de suas proporções à queles que não vivenciaram o episódio.
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Situação muito parecida ocorreria em 1992, quando as águas chegaram a 14,42 metros, deixando cerca de oito mil desabrigados, que foram alojados em 24 diferentes abrigos, entre salões paroquiais, ginásios, clubes, barracões de empresas e até vagões de trens e, levaram a medidas de racionamento de alimentos, remédios, a sérios problemas de abastecimento de água potável e inúmeros prejuÃzos, contabilizados à época em cerca de cinco bilhões de cruzeiros.
Apesar de não haver registros oficiais como em 1983 e 1992, os relatos existentes fazem com que duas enchentes, ocorridas a mais de 120 anos (1888 e 1891), também mereçam destaque.
Em 1888, após uma longa seca, com ápice em janeiro e fevereiro, assolar a região, verificou-se a ocorrência de uma grande enchente em outubro, no qual o rio Negro atingiu nÃvel até então inédito, antecedendo aquela que é considerada por muitos como a maior de todas as cheias, guardada na memória da população e contada pelas gerações até nossos dias.
Em julho de 1891, quando não havia quaisquer das pontes hoje existentes sobre o rio, a travessia ainda era feita pela balsa e conseqüentemente, a quantidade de habitantes e a urbanização eram bem menores que as atuais, relatos contam a ocorrência daquela que seria a maior de todas as enchentes, que conforme conta-se, teria atingido as escadas da igreja do Senhor Bom Jesus da Coluna, afirmação que impressiona qualquer um, mesmo aqueles que acompanharam as cheias de 1983 e 1992 (mas vale lembrar que à época, tanto a igreja quanto sua exata localização não eram as mesmas existentes atualmente).
O que sabe-se dessa enchente e, pode-se concluir grosseiramente analisando as informações que existem, é que suas proporções (elevação do nÃvel) teriam sido semelhantes as da enchente de 1983. Relatos contemporâneos ao fato contam que “Em Rio Negro, muitas casas, em número superior a vinte, ficaram inundadas, não aparecendo de algumas o telhado, e de outras apenas ele. A casa do Sr. João Taborda foi completamente destruÃda, as de Martim Mader, Thomas Becker, a do registro da Coletoria estavam quase submergidas, o hotel Rio Negrense do outro lado do rio (margem esquerda) estava com a água até o meio das janelas; o barracão em que estiveram os colonos (imigrantes poloneses chegados naquele mesmo ano), também ficou inundado. As árvores a direita da ponte do Passa três e parte desta desapareceram, as canoas trabalharam por cima delasâ€.
Talvez como melhor medida para ter-se real noção do que se passou em 1891, sirva a informação de que em tal enchente, o leito do rio atingiu a altura em que seria instalada cinco anos depois a ponte metálica.
Lembradas pela devastação e prejuÃzos causados à toda cidade, as grandes enchentes foram grandes catástrofes naturais pelas dimensões que assumiram, exigindo muitos esforços para socorro e recuperação fÃsica das perdas, o que sempre foi bem sugestivo à elaboração e manutenção de planos de ação em caso de reincidências e que nos dizem, enchente após enchente, que não podemos ser surpreendidos por fenômenos algo que a própria história mostra serem periódicos.