Em 1914, o conflito armado na região do Contestado havia se expandido e chego às proximidades de Riomafra, Canoinhas estava sendo constantemente atacada por “fanáticos” (termo empregado à época para referência aos caboclos revoltosos) e Itaiópolis tinha sido invadida no final de agosto. Assim, pairava sobre nossas cidades um clima de total insegurança, que sugeria que logo estaríamos envolvidos pela guerra.
O temor dos saques, assassinatos e todas as demais violências tão comuns a qualquer revolução armada, povoava a mente de nossos conterrâneos, pois a cidade estava desguarnecida (desprotegida), não havia aqui forças militares e a própria população tinha receio em reagir a um inimigo que não conseguia dimensionar, e prever se as consequências de uma possível reação civil seriam realmente positivas.
Aqueles que possuíam condições financeiras deixaram a cidade, os que aqui ficaram evitavam ao máximo sair às ruas, preferindo a segurança que seus lares e familiares lhes representavam, até a passagem pela ponte metálica, principal meio de transposição do rio Negro na época, chegou a ser obstruída com madeira e arame farpado, numa atitude que buscava dificultar o acesso de possíveis invasores à margem direita do rio. Naqueles dias, até o trem que fazia a linha de transporte à Campo do Tenente, Lapa e Curitiba deixou de seguir viagem até a estação ferroviária de Rio Negro.
Via-se dessa forma que, apesar dos riscos reais que a situação apresentava a insegurança ainda era motivada por uma “possibilidade” (a invasão de fanáticos), ou seja, algo tanto passível de ocorrer como capaz de sequer se concretizar, mas que era extremamente delicada para os riomafrenses que temiam por si, pelos seus e também por tudo que possuíam.
Para ajudar a compreender um pouco a realidade daqueles dias turbulentos, vejamos um caso mais específico de atitudes tomadas em virtude de todo aquele contexto, a postura adotada pela Escola Brasil Cívico, pertencente ao do Instituto Neo-Pitagórico, centro de estudos filosóficos para o desenvolvimento das faculdades superiores do ser humano, inspirado nos ensinamentos de Pitágoras e baseados na cultura, verdade, justiça, liberdade, paz, fraternidade e harmonia.
Criado em 1909 pelo poeta e escritor radicado em Curitiba, Dário Veloso, o Instituto Neo-Pitagórico adquiriu em 1913, a fim de ampliar suas atividades, uma propriedade agrícola em Rio Negro para estabelecimento da “Escola Brasil Cívico”, propriedade a qual chamou-se “Nova Crótona”, em alusão ao antigo Instituto do filósofo grego Pitágoras, criado no século VI a.C. na cidade de Crótona.
Em uma sede provisória a Escola Brasil Cívico iniciou suas atividades em janeiro de 1914, com 48 alunos, dos quais 27 internos. Porém com a evolução da Guerra do Contestado, a insegurança riomafrense também trouxe grandes receios à direção do Instituto, preocupada evidentemente com a integridade de seus professores e alunos mas entre temores, projetos, planos e alternativas estudadas para o caso, a Escola Brasil Cívico mantinha suas atividades educacionais.
Rotina de estudos que foi quebrada em 29 de agosto, quando, sob a informação de eminente invasão de Rio Negro pelos revoltosos, em apenas 2 horas, todos os integrantes do Instituto Neo-Pitagórico foram evacuados, abandonando Nova Crótona e seguindo viagem em direção à Curitiba.
A drástica mudança de planos adotada pelo Instituto Neo-Pitagórico, apenas oito meses depois do início das atividades da Escola Brasil Cívico e a própria agilidade com que Nova Crótona foi evacuada são exemplos que retratam nosso contexto em agosto de 1914, quando o medo de uma invasão de revoltosos durante a Guerra do Contestado não só povoou as mentes como mexeu com a vida dos riomafrenses.
Só pra não esquecer, foi naquele mesmo dia 29 de agosto, que Henrique Wolland, conhecido como “Alemãozinho”, com um grupo de 300 “fanáticos” chegou pela estrada do São Lourenço e, após verificar a inexistência de tropas militares na cidade, realizou uma incursão em nossa cidade.