A memória literária “Borboletas no Estômago”, do aluno Vitor Bielecki de Melo, da EMEB Professor Mario de Oliveira Goeldner, de Mafra, está classificada para a etapa estadual da 6ª Olimpíada de Língua Portuguesa.
De Mafra, 14 escolas participaram da 6ª edição da olimpíada, concorrendo nas categorias Poema, (turmas do 5ª ano), Memórias Literárias (6º e 7º anos), Crônicas (8º e 9º anos), Documentários (1º e 2º nos do Ensino Médio) e Artigo de Opinião (3º ano do Ensino Médio).
Confira a reprodução da memória literária “Borboletas no Estômago”:
EMEB Mário de Oliveira Goeldner
Categoria: Memórias literárias
Título: Borboletas no Estômago
Texto baseado na entrevista feita com Zenilda Carvalho Bielecki de 61 anos.
“Estava eu, na casa de minha madrinha em Mafra, brincando com minhas bonecas. Era um dia ensolarado. De repente, vejo meu pai vindo em minha direção e penso: “Irá me levar para a casa”, mas dessa vez não era para voltar pra casa e sim para viajar para outra cidade.
Naquele momento perguntei ao meu pai onde estávamos indo. Ele apenas me disse: indo para outra cidade, para você ter uma vida melhor”. Com lágrimas em meus olhos não discuti. Embora não quisesse morar em outra cidade obedeci sem argumentar. Chegando na cidade li uma placa que dizia: “Seja bem vindo a Tubarão”. Agora sabia para qual cidade estávamos indo. Meu pai havia me explicado artificialmente que iria me entregar para outra família cuidar. Desceu do ônibus e me entregou para uma senhora de aparência amigável. Seu nome era Rosirene, uma professora aposentada de origem italiana. Meu pai após me entregar para Dona Rosirene voltou para o ônibus cheio de lágrimas nos olhos e sem dizer nenhuma palavra. Não olhou para trás. Eu fiquei triste. Muito triste. Mas entendi a situação. Meus pais não tinham condições de nos manter. Éramos muitos filhos e precisávamos nos separar.
Entrei na minha nova casa e me espantei com o seu tamanho. Ela era enorme. Logo na chegada Dona Rosirene me convidou para comer. Quando vi que era pão com ovo, me maravilhei. Que delícia! Nunca havia comido pão com ovo pois em Mafra comíamos apenas leite com milho, arroz, feijão e hortaliças que nós mesmos plantávamos. Ás vezes ficávamos até sem comida. Depois de me alimentar, Dona Rosirene disse-me que iria me matricular na escola em que ela deu aulas. Fiquei muito feliz porque tive que largar a escola para trabalhar. Compramos uniforme e um tênis para mim. Estava extasiada porque quando eu frequentei a escola ia descalça e com as “roupas de ficar em casa”. Depois das compras voltamos para casa e dona Rosirene me ensinou a fazer pirucas, bonecas e tricô.
Chegou o dia de ir para a escola. Ao chegar lá me encantei: “Como era linda!”. Adorava ir para a escola. Ainda mais porque Dona Rosirene me levava e buscava de carro na escola. Eu estava feliz em Tubarão. Comíamos comidas gostosas, íamos a restaurantes chiques e até mesmo para a praia. Mas não superei a falta de meus pais. Cada vez que um ônibus da empresa Souza Cruz passava pela frente da casa da Dona Rosirene eu achava que era minha mãe vindo me buscar. Minha mãe trabalhava na Souza Cruz e utilizava o ônibus. Nunca veio. Passaram-se dois anos e minha mãe e meu pai ligaram para Dona Rosirene dizendo que estavam em condições melhores de vida. Dona Rosirene perguntou-me se queria voltar para a casa de meus pais. Sem nem pestanejar disse que aceitava.
Depois de horas de viagem vi minha velha casa e meus pais me esperando. Retornar à Mafra minha cidade amada depois de dois anos foi uma das melhores sensações de minha vida. Ah!! Minha Mafra amada que saudades eu senti de você. De correr pelos seus campos, de brincar nos parques, de “catar pinhão” caído no chão e depois comê-lo “sapecado” no fogão à lenha, de brincar de boneca na casa de minha madrinha. Do seu cheiro, da sua essência, que saudades do lugar onde eu nasci.
Da janela do carro observando tudo, um filme passava pela minha cabeça em questão de segundos. Foi como se o tempo não tivesse passado. Meu Deus! Que alegria! Quanta emoção em meu coração. Senti borboletas no estômago e quis chorar. Não segurei as lágrimas. E nem eles. Saí do carro de Dona Rosirene correndo em direção aos braços de meus pais. Os abracei e beijei muito. Olhei para trás e um misto de sentimentos tomou conta de mim. Estava feliz e ao mesmo tempo triste. Feliz por estar com meus pais e triste por deixar Dona Rosirene. Dona Rosirene foi como uma mãe para mim por dois anos. Ela foi embora sem olhar para trás. Se eu permaneço em seu coração nunca saberei. Só sei que em meu coração ela morará eternamente”.