Pesquisador da UnC coordena trabalhos no Programa Antártico Brasileiro

Por Assessoria - 07/02/2019

Retornou no dia 01 de fevereiro de sua terceira expedição a Antártida, o Professor Dr. Luiz Carlos Weinschütz, Coordenador do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado de Mafra, onde coordenou uma equipe de pesquisadores nos meses de dezembro/2018 e janeiro/2019.

O PROJETO DE PESQUISA

Intitulado PALEOANTAR, faz parte dos vários projetos aprovados pelo Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), e realizados durante o XXXVII OPERANTAR.

O Projeto PALEOANTAR tem na coordenação geral o Prof. Dr. Alexander Kellner do Museu Nacional da UFRJ, e conta com a participação de pesquisadores de diversas instituições nacionais e estrangeiras, dentre elas a UnC. Este projeto tem como principais objetivos a prospecção, coleta e estudos de fósseis do Cretáceo (80 a 65 milhões de anos) da porção leste da Península Antártica, principalmente na região que compreende o arquipélago de James Ross, e está na sua quinta edição com previsão de pelo menos outras quatro campanhas de campo.

O GRUPO

A equipe era composta pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Weinschütz da UnC, Mafra/SC (Coordenador); pelo Prof. Dr. Alessandro Batezelli da UNICAMP, Campinas/SP; pelo Mestrando Geovane Alves de Souza da UFRJ, Rio de Janeiro/RJ; pelo Pesquisador João Alberto Ferreira Matos da UFU, Uberlândia/MG, e pela Alpinista Yoshimi Nagatami. Uma segunda equipe do Paleontar, coordenada pelo Prof. Dr. Rodrigo Giesta Figueiredo da UFES, ficou acampada na Ilha James Ross com outros 3 participantes.

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O LOCAL DA PESQUISA

O grupo de pesquisadores ficou acampado na Ilha Vega, que faz parte do arquipélago James Ross, situado na parte Leste da Península Antártica, as margens do mar de Weddell, a aproximadamente 250km ao sul da Base Brasileira Comandante Ferraz (situada na ilha Rei George).

POR QUE A ILHA VEGA?

Na região do Arquipélago James Ross, do qual a Ilha Vega faz parte, ocorrem porções de rochas sedimentares com idade próximas a 80 milhões de anos, onde podem ser encontrados vestígios de animais e plantas que viveram neste intervalo de tempo. Todos estes fósseis nos contam que o continente Antártico era bem diferente há milhões de anos do que é hoje. No Cretáceo ele era coberto por florestas com coníferas e samambaias onde dinossauros caminhavam, as praias eram de águas rasas com tubarões, amonites e repteis marinhos como o plesiossauro. Vale lembrar que neste tempo todo o nosso Planeta era bem mais quente do que é hoje, a Antártida estava recém separada do Gondwana (grande continente que era formado pela América do Sul, Antártida, Ãfrica, Ãndia e Austrália).

O ACAMPAMENTO

Toda a logística de transporte dos pesquisadores para a Antártica é feita pela Marinha do Brasil através da CECIRM, com o apoio da FAB para alguns voos de travessia. O grupo de pesquisadores seguiu para a Antártica num voo da FAB (Hercules) que saiu da cidade de Punta Arenas(CHI) no dia 30/10/18  até a Base Chilena na Antártida de Frei Montalva, lá o grupo foi embarcado no Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, seguindo para Ilha Rei George, onde fica a base Brasileira e em seguida para a Península Antártica. O grupo foi lançado na Ilha Vega no dia 03/11/18 após um voo de helicóptero para reconhecimento prévio realizado pelo coordenador do grupo. No total foram realizados 32 voos entre o navio e o local determinado para o lançamento dos pesquisadores, gêneros alimentícios e material de acampamento e prospecção. No dia 22/01/19 o grupo bem como todo o equipamento e o material resultante das coletas foi recolhido ao navio, totalizando 50 dias acampados, o que é considerado um dos mais extensos acampamentos já realizados por pesquisadores brasileiros na Antártida. A travessia para a Punta Arenas foi feita de navio, num total de 5 dias, passando pelo terrível Mar de Drake.

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TRABALHOS DE CAMPO

A partir de uma programação prévia baseada em cartas topográficas, mapas geológicos e pelo estudo de trabalhos publicados, foi definido o plano de ação que constituía basicamente de duas atividades principais: Prospecção e Coleta de fósseis, que se dava por caminhamentos nas porções de rocha aflorante da ilha, e Levantamento Geológico, que era feito pelo detalhamento das rochas onde os fósseis estavam inseridos. Concomitantemente todo material coletado era devidamente catalogado e embalado para posterior transporte de volta ao Brasil.

AS DIFICULDADES

O Continente Antártico apresenta condições severas para a sobrevivência humana, trata-se da região que mais venta no planeta, é a região com as menores temperaturas já registradas, e também considerada a região mais seca da Terra, e embora o grupo tenha acampado no verão e a Nordeste da península, a natureza sempre mostra porquê que a civilização humana até um século e pouco não conseguia habitar essa região do globo.

O Prof. Luiz conta que nesses 50 dias de acampamento raramente a temperatura ficou positiva, e quando acontecia era em torno de 0,5ºC a 1,5ºC, na média ficamos próximos aos -5ºC com mínimas de -10ºC.

Essa temperatura fria era potencializada na sua sensação pelos constantes ventos que assolam aquela região da Antártida, para se ter uma ideia, com a temperatura de -5ºC e ventos de 30km/h (comuns na região), a sensação térmica é de -25ºC. Raramente ocorreram dias com pouco vento, sendo que em algumas ocasiões o vento atingiu 110km/h, o suficiente para pôr em risco a segurança do acampamento, inclusive com a quebra da barraca do coordenador do projeto.

Acostumar a dormir com claridade levou um certo tempo, pois nessa época do ano não tem noite na Antártida, o sol não chega a se pôr abaixo da linha do horizonte.

Outra dificuldade que todos do grupo sentiram, era com relação ao distanciamento e a pouca comunicação com familiares e amigos, passar o Natal e Final de Ano longe de casa foi deprimente. O grupo tinha a disposição um celular por satélite, mas com pouca possibilidade de uso pessoal, pois o mesmo era para utilização em caso de emergência extrema.

A travessia do Mar de Drake (considerado o mais revolto do planeta) durante nossa volta foi no mínimo uma dificuldade interessante, embora todos os marinheiros relataram que a passagem pelo Drake foi tranquila, para os pesquisadores passar 40horas chacoalhando com ondas de 3 metros pareciam horas intermináveis “entocados†nos seus camarotes.

OS RESULTADOS

No geral o resultado obtido nessa etapa de campo foi considerado excelente pelo grupo, foram descritos 24 pontos de informação geológica, quatro áreas de grande ocorrência de fósseis, foram coletadas mais de 1 tonelada de amostras e descritos dois perfis geológicos.  Todos estes dados, amostras e fósseis coletados irão servir de base para trabalhos que sucederão a esta etapa de campo e gerarão artigos científicos que contribuirão para um melhor conhecimento do que foi o passado remoto da Antártida, contribuindo para o Programa Antártico Brasileiro, tendo em vista que nosso país faz parte do Tratado Antártico, e tem o dever de gerar conhecimentos sobre o continente gelado. No total foram coletadas 1,2 toneladas de amostras, que serão em sua grande maioria inseridas no acervo do Museu Nacional, e uma parte será disponibilizada para as demais instituições participantes, incluindo a UnC que deverá organizar uma exposição sobre o tema junto ao Museu da Terra e da Vida/CENPALEO.

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