Me chamo João Paulo, é desse jeito simples que sempre me apresento, objetivo e direto, se perguntam minha profissão digo que sou professor, mesmo quando não estou em vaga alguma, não por uma questão de orgulho, mas sim por saber que minha profissão faz parte do meu ser. Neste artigo não tenho a intenção de trazer dados cientÃficos ou encher de fontes acadêmicas pomposas para parecer um intelectual, na verdade, das ideias presentes aqui, muitas delas ainda possuem questionamentos que permeiam minha imaginação, por tanto de antemão peço perdão se em algum momento isso parecer um monólogo.
Você que me lê nesse momento, você possui filhos, na fase dos 10 até 17 anos? Se sim, eles provavelmente estão em casa, e é muito provável que eles tenham um celular, tenham fotos – que talvez você condene -, vÃdeos – que talvez sejam piores dos que as fotos condenáveis-, participem de grupos de WhatsApp – com certeza com conversas que você, pai e mãe, jamais ousariam ter quando eram adolescentes, e obviamente músicas – que sejamos honestos, vocês não ligam muito para quais são, exceto quando o vizinho ouve em um volume muito alto -. É verdade que os tempos mudaram, e não tenho a menor intenção de ser anacrônico, julgar o passado com olhos do presente ou vice-versa, mas o fato é que seu filho, mãe, pai, está morrendo, mas calma, talvez ele viva até os 100 anos, o que está morrendo nele é a tradição, o bom comportamento, as bases fundamentais da sua educação, e na pior das hipóteses ele está cometendo um suicÃdio em relação a própria humanidade.
Imaginemos o seguinte cenário: Você está na rua nos anos 90, as bandas de rock do perÃodo lançaram seus discos absurdamente bons, Mamonas Assassinas estava na rádio tanto quanto o sertanejo, tudo parecia bem, os velhos reclamavam das músicas dos novos, os novos achavam os velhos chatos e a vida seguia tranquilamente, esporadicamente um desses cantores de rock iria preso por algum motivo, algum outro morria de overdose, e a AIDS vitimava mais um em algum lugar, do lado mais tradicional, algum deles morria de cirrose, outro tinha um escândalo descoberto com uma das suas 6 amantes, e a AIDS também vitimava gente deste lado, coisas que a vida dupla e a fama podem fazer com a moralidade de alguém. Ainda assim, aposto que você não seguiu os passos dos seus cantores preferidos ou as letras das músicas, você não fez as cirurgias que o Robo-Cop Gay fez, certo? Se fez tudo bem, mas aposto que não, e se você está lendo isso, com certeza não morreu de overdose.
Pois bem, agora vamos rememorar aquilo que você que me lê ouvia quando era pego ouvindo uma música que seus pais não gostavam… não, pensando bem, acho melhor não escrever ofensas em um jornal, você com certeza lembra, é o bastante. Agora me diga, você faz o mesmo com o seu filho? Eu quero dizer, você exorta seu filho ou sua filha quando pega ela ouvindo alguma música que diz que ela tem que rebolar em algum lugar? Ou uma música que diz para o seu filho que as melhores coisas da vida é encher a cara e ter várias mulheres? Se faz, você pode até parar a leitura por aqui, se quiser, se não faz, vem cá, vamos conversar.
Vamos voltar para o mundo real, aonde professores veem absurdos em sala de aulas e os pais colocam seus filhos em escolas achando que é dever de diversos professores não só ensiná-lo sobre a ciência e o mundo, mas também os educar sobre moral e ética, e corrigi-los quando esses anjinhos forem mal-educados e falarem palavrões. No mundo real, aonde crianças de 12 usam suas mochilas para simular mulheres sentando e rebolando em seus colos, ou quando pegam o pó do giz do quadro e fazem um desenho com esse pó branco em suas carteiras, simulando uma carreira de cocaÃna, a qual eles fingem cheirar.
Pai, mãe, vocês ensinaram seus filhos sobre sexualidade precoce e como fazer uma carreira de cocaÃna? Ou talvez – como em um caso mais recente que vi e ouvi -, pai, você ensinou seu filho que ele precisa bater em uma mulher para que ela seja obediente? E a segurar um revolver? Porque algumas semanas atrás um ex-aluno meu de 13 anos disse que quando tiver um revolver ninguém segura ele, e eu tenho sérias dúvidas se era só uma brincadeira. Mãe, você era virgem no segundo ano do ensino médio? Porque se sua filha estiver nele ou chegando nele, é melhor você abrir o olho.
Será que são as conversas com os amigos? Ah! Más companhias! Ou será que é essa internet?! Ou talvez o problema esteja em outro lugar, um “sonoro lugarâ€.
A música, especialmente na pré-adolescência tem o poder de nos apresentar o mundo, apresentar comportamentos éticos, ajudar a criar nossa moral, afinal, é imaginando o mundo que nosso cérebro entende a vida. O que você acha que vai acontecer com a mentalidade do seu filho de 14 anos se ele ouvir uma música que dá a entender que usar droga é melhor do que ter um grande amor? De que o sexo banalizado é uma forma de aproveitar a vida? Que portar armas te dá status e respeito? Eu nem preciso dizer o que vai acontecer, você sabe, a “pequena†diferença entre o heavy metal e o sertanejo fez o pai se vestir com bota de couro, o filho – quando vestido – se vestir como se fosse um morcego, todo preto e com maquiagem, mesmo morando no interior. Ainda assim, o lar aonde este filho foi criado trazia regras claras, em relação especialmente ao respeito, ele foi moldado assim, indiferente do gênero que ouvia, os pais estavam sempre presentes.
Vejamos o cenário atual:
1 – Pais ausentes
2 – Filhos carentes
3 – Músicas simples de se ouvir, com pouca qualidade artÃstica, e com letras assim;
“Então vai
Desce, desce, desce, desce, desce com tesão
Senta, senta, senta, vai travando a bu*******
Sem essa de ficar dividida
Troca o amor por putaria e vem curtir a vidaâ€
O trecho acima foi retirado da música “Gaiola é o trocoâ€, uma das músicas mais tocadas hoje em dia, sua filha talvez ouça isso, mãe, e talvez seu filho ouça isso e queira reproduzir na prática, pai.  Qualquer pessoa que trabalha com educação sabe o que o imaginário da criança e do adolescente é o que constrói sua visão de mundo, a referência do herói molda seu caráter, se o herói do seu filho é um traficante, o que você espera que seu filho diga, faça e veja? Talvez você devesse ser o herói dele. Não um youtuber ou qualquer músico, de qualquer gênero musical.
Não escrevo isso para fazer juÃzo de valor, nem ao menos generalizar um estilho musical, existem músicas excelentes em todas as vertentes. Também não acho que vossos filhos precisem ouvir músicas eruditas ou gostar das mesmas coisas que você que me lê gosta, mas refaço a pergunta do tÃtulo.
Você sabe o que seu filho ouve?