Texto de Cícero Bley Jr da Casa da Cultura Brasil Luxemburgo
Que povo é esse?
Levamos quase 200 anos para “descobrir” que éramos luxemburgueses. Na primeira leva de imigrantes europeus, do total das famílias que cruzaram o Atlântico nos idos de 1829, vindas do mesmo porto, Bremen/Alemanha e embarcadas no mesmo vapor, doze chegaram a um mesmo lugar, a Estrada da Mata.
Entre elas, quatro famílias luxemburguesas. Nossos troncos originais das famílias Grein, Stresser, Krauss e Bley.
Para entender:
A formação de um sentimento nacional luxemburguês específico só veio após a criação do Estado de Luxemburgo em 1839. Exatos dez anos após a chegada dos pioneiros no Brasil.
A população do Grão-Ducado só começou a apreciar as vantagens que a autonomia proporcionava, ainda quase 20 anos depois. De Feierwon , uma canção patriótica, proclama: “Mir wëlle bleiwe wat mir sinn” “Queremos continuar o que somos” .
O fenótipo anglo-saxão, dos cabelos loiros, olhos azuis e pele muito fina e clara, além da língua falada e mais do que tudo, com a solidariedade que os aproximou, vivida e construída na dura travessia, definiram um grupo de imigrantes, os alemães.
Interessava a todos mais o que estava por vir, do que qualquer esforço para destacar diferenças, inclusive as referências ao pais de origem de cada um.
Todos se apresentavam como alemães e enfrentaram juntos o lado B da terra prometida. Florestas, povos originários, animais estranhos e todas as agruras da terra desconhecida. Mas, recomeçaram sim as suas vidas.
Compartilharam sonhos, esperança e passaram por muito sofrimento, atrás das oportunidades prometidas. Nada foi mais importante para esta gente do que superar juntos as vicissitudes e recomeçar a vida.
A cerca de 10 anos Luxemburgo convocou descendentes de imigrantes do mundo todo entre eles os da região sul do Paraná e Planalto Norte de Santa Catarina, para recuperarem a cidadania.
Foram chegando, um a um. Passaportes e identidades encheram mais os corações do que as vaidades. Há quem diga, que a região de Rio Negro e Mafra abriga quase 10 mil pessoas com a cidadania luxemburguesa recuperada.
Celebramos o bicentenário da nossa chegada a Rio Negro, juntos com os alemães, pois um dia formamos fraternalmente com eles, um só grupo pioneiro. E só temos a agradecer por esta acolhida.
O legado que nossos ancestrais ofereceram a esta terra é o que celebramos nestes 200 anos da Imigração Alemã.