Nuvem de gafanhotos em Rio Negro já causou danos incalculáveis na lavoura no passado

Por Ever Lisboa (Click Riomafra) - 04/08/2020

Nuvens de gafanhotos surgiram recentemente e se deslocaram até a Argentina, próximo a fronteira com o Brasil, colocando em alerta as autoridades brasileiras devido ao potencial risco de destruição de plantações. Segundo especialistas, quando a “nuvem” se forma pode haver 40 milhões de gafanhotos em cerca de 1 km². Eles consomem em um dia o equivalente ao consumo alimentar de duas mil vacas ou 35 mil pessoas.

Na última sexta-feira (31), o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa, na sigla em espanhol), uma agência do governo argentino, foi informada sobre uma quarta nuvem de gafanhotos em Salta, na Argentina. O enxame ainda deve ser encarado como risco pela proximidade com o Rio Grande do Sul.

Estes insetos não afetam a saúde humana ou de animais, pois se alimentam apenas de material vegetal e não são transmissores de doenças. No entanto, os gafanhotos podem afetar a atividade agrícola, e, indiretamente, a pecuária, porque os insetos se alimentam de recursos usados nesta atividade. Eles também causam danos à vegetação nativa.

Imagem ilustrativa

GAFANHOTOS EM RIO NEGRO

Engana-se quem pensa que esse fenômeno é novo, principalmente aqui na região. De acordo com o Ministério da Agricultura brasileiro, os insetos estão presentes no país desde o século XIX, e causaram grandes perdas às lavouras na região Sul no início do século XX. Desde então, tem permanecido na sua fase “isolada” que não traz problemas às lavouras, pois não forma as chamadas nuvens.

O jornalista rionegrense Everton Lisboa pesquisou e encontrou no livro História de Rio Negro, de 1976, escrito por Raul D’Almeida, a informação sobre uma nuvem de gafanhotos na cidade de Rio Negro-PR que causou grandes prejuízos para a agricultura. Os relatos são:

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“A 10 de Julho de 1906 registra-se o aparecimento de enorme nuvem de gafanhotos sobre o Município. Os estragos à lavoura apareceriam com essa sua passagem e, mais tarde, com a procriação no local”.

“Outubro de 1907 – Como já ocorrera no ano anterior, grande nuvem de gafanhotos abate-se sobre Rio Negro, onde lançou ovos e procriou. A praga causou danos incalculáveis à lavoura durantes os meses seguintes, causados pelos “soltões”, oriundos da desova”.

Certamente essa nuvem de gafanhotos no início do século XX foi motivo de grande preocupação para a cidade de Rio Negro, já que o agronegócio era um dos principais pilares da economia local. Naquela época o prefeito da cidade era o senhor Antônio José Correia, que inaugurou uma fase política dominada principalmente pelos produtores de mate e seus correligionários.

COMO A PRAGA FOI COMBATIDA

Não há relatos sobre como foi solucionado esse problema na cidade de Rio Negro, mas através de pesquisas é possível saber como a região Sul em geral combateu a praga naquela época.

Marcos Gerhardt, professor de história da Universidade de Passo Fundo-RS, analisou documentos de autoridades municipais e entrevistou agricultores atingidos pelas nuvens de gafanhotos no início do século XX. Segundo ele, havia pânico e medo do prejuízo econômico decorrente da perda do cultivo. Recorria-se então a uma série de técnicas e equipamentos. “Às vezes dava certo, às vezes não. Diminuía, mas não eliminava o problema. Governos municipais estavam também empenhados em ajudar os agricultores, mas não havia muitos recursos para todos naquela época”, relata o professor.

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Ainda segundo o professor, o combate à praga era principalmente manual até os anos 1930. Os métodos então passavam por barulho com latas ou varas de madeira, lança-chamas, uso de fungos, queimada de arbustos, arado para expor os ovos, valas comuns para incinerar ou enterrar vivos gafanhotos que ainda não voam, barreiras metálicas, caixas ou sacos de captura, entre outros. “O trabalho tem sido insano e fatigante, mas felizmente parece-me que a maioria dos agricultores salvarão as suas plantações”, escreveu o intendente municipal de Ijuí-RS, em 1917.

O uso de produtos químicos começa a ser difundido na América do Sul a partir dos anos 1930 e o de aviões, na década seguinte. Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45), houve uma grande difusão de uso de químicos na agricultura, e contra o gafanhoto em especial o hexaclorobenzeno (BHC), pesticida organoclorado conhecido como pó-de-gafanhoto. Por causa de sua toxicidade, a venda e o uso de BHC acabariam sendo proibidos no Brasil em 1985.

HISTÓRIA DE RIO NEGRO

O livro “História de Rio Negro” foi escrito por Raul D’Almeida, que nasceu em Rio Negro no dia 6 de julho de 1900 e foi um dos homens mais atuantes do município na primeira metade do século XX. Além de escritor, Raul foi historiador e prefeito da cidade de Rio Negro entre 5/12/1935 e 28/3/1944.

Fontes: Livro História de Rio Negro (D’ALMEIDA, Raul. História de Rio Negro, 1976) e sites BBC e BOL.

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