A população seria muito melhor atendida pelos serviços públicos básicos se habitasse municÃpios com uma base econômica mais diversificada e fontes sólidas de receita própria. A constatação é de um estudo técnico realizado por analistas do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR). O trabalho, intitulado Estudo de Viabilidade Municipal (EVM), foi apresentado em entrevista coletiva à imprensa nesta quarta-feira (11 de janeiro), pelo presidente da corte, conselheiro Ivan Bonilha.
Muitos dos municÃpios que, atualmente, têm nas transferências federais a maior parte ou a totalidade de suas receitas, por não terem condições econômicas próprias de se sustentar, foram criados ao longo da década de 1990. “Essa viabilidade não existe maisâ€, argumenta Bonilha. “A realidade hoje é de enxugamento de despesas, de redução da máquina, para a aplicação dos recursos nas áreas que são mais necessárias ao cidadão, como saúde, educação, segurança.â€
Variáveis
O levantamento, realizado por quatro servidores do TCE-PR, foi consolidado num relatório de 136 páginas. A constatação é que municÃpios com população inferior a 5.000 habitantes podem não apresentar condições de receber significantes responsabilidades públicas. “Isso reforça a importância da discussão sobre emancipação de municÃpios, bem como sobre a própria necessidade de se considerar a possibilidade de consolidação (fusão) de municÃpiosâ€, apontam os autores.
No Paraná, há 96 municÃpios com população inferior a 5.000 habitantes – 24% do total, de 399. Em todo o paÃs são 1.300 municÃpios nessa condição. O estudo conclui também que os municÃpios paranaenses na faixa entre 50 mil e 250 mil habitantes são os que apresentam os melhores Ãndices de desenvolvimento e de qualidade de vida da sua população.
De acordo com o EVM, a instalação de novos municÃpios carece, no paÃs, de uma análise aprofundada de sua capacidade em atender à s demandas futuras da população. “Pois assim como (…) sociedades empresariais (…) devem demonstrar que suas atividades não provocam potencial dano ao meio ambiente (…) o Poder Público, com muito mais razão, deve demonstrar à sociedade que as criações de novos entes federativos não ocasionarão prejuÃzo à população interessada.â€
Titular da Coordenadoria de Informações Estratégicas do TCE-PR, Andre Luiz Fernandes, que coordenou o estudo, destaca que a variável “viabilidade econômica†tem de ser levada em conta quando se pensa em criar um municÃpio. “Quando se avaliam os gastos em educação e saúde, percebe-se que há um ganho de escala na prestação de serviço. Ou seja: à medida que a população aumenta, cai o custo unitárioâ€, observa.
Debate
De acordo com Bonilha, a proposta do estudo é suscitar uma discussão nacional sobre a viabilidade econômica, fiscal e social de municÃpios muito pequenos. Com o EVM, o TCE-PR apresenta subsÃdios técnicos ao debate, num momento em que as dificuldades de caixa dos entes federativos estão em evidência. “Essa é uma discussão que toca de perto o cidadão. É preciso reduzir o dinheiro que se gasta com a estrutura do poder público, como vereadores, secretários e a máquina e direcionar esse recurso para a prestação de serviços de qualidade em educação, saúde e segurançaâ€.
Com o objetivo de ampliar o diálogo sobre a questão, uma cópia do EVM foi encaminhada ao Tribunal de Contas da União em novembro passado. Bonilha também manteve contatos com o ministro Benjamin Zymler e com o atual presidente da corte, ministro Raimundo Carreiro. “Existe a possibilidade de fusão e incorporação de municÃpios, o que seria feito com base em estudos técnicos. O que queremos é oferecer bons serviços ao cidadãoâ€, observa o presidente do TCE-PR.
A legislação que, atualmente, disciplina a fusão e incorporação de municÃpios é de competência federal. Segundo Bonilha, seria importante a sua flexibilização, o que permitiria, por exemplo, a mudança da responsabilidade ativa da proposta. Uma opção que se coloca é que a iniciativa parta, por exemplo, dos deputados estaduais. Não há, contudo, um modelo pronto. Este surgiria a partir do debate.