Quando se encontra uma planta ou animal desconhecido está cada vez mais difícil saber se é uma espécie nativa da região ou invasora, proveniente de outros países ou de outras regiões do Brasil. É uma das consequências negativas da globalização.
Geralmente quando é uma espécie invasora, quer seja do reino animal ou vegetal, significa problema tanto para os ecossistemas preservados como para a agricultura e pecuária. As espécies invasoras são apontadas pelos especialistas como a segunda causa de perda de biodiversidade, só perdendo para o desmatamento.
Recentemente um cientista fotografou uma lesma grande, que pode atingir 13 cm de comprimento, de coloração muito interessante na estrada, em frente de uma propriedade rural, no entorno da RPPN das Araucárias Gigantes [http://www.rabugio.org.br/areasprotegidas.php?id=13], na localidade Linha Cerqueira, Distrito de Itaió, em Itaiópolis (SC). Esta lesma era desconhecida para o cientista, que ficou surpreso porque nunca tinha visto antes,” apesar de ter nascido e vivido por muitos anos em Itaiópolis, observando atentamente qualquer ser vivo que encontrasse e uma lesma tão interessante assim não passaria despercebida”, disse o pesquisador.
O mesmo enviou as imagens para o pesquisador Aisur Ignacio Agudo Padrón, que é especialista neste grupo de animais invertebrados, dos moluscos, principalmente da fauna catarinense, seu principal foco de estudos. Aguardava ansioso pela resposta, imaginando ter encontrado mais uma raridade da biodiversidade abrigada e protegida naquelas áreas de Mata Atlântica que estão preservando.
No entanto, a resposta do professor Ignacio com a identificação da espécie frustrou minha expectativa. Trata-se de uma lesma exótica invasora, originária da Europa, conhecida como lesma amarela (Limacus flavus) [http://www.ra-bugio.org.br/ver_especie.php?id=1774].
Não se sabe quando chegou ao Brasil, mas nas propriedades rurais do entorno da RPPN das Araucárias Gigantes, na localidade Linha Cerqueira, em Itaiópolis (SC), apareceu em 2010, segundo os agricultores.
Esta espécie invasora de lesma tem causado grandes prejuízos para os agricultores da localidade. Ataca os canteiros de mudas de tabaco cultivadas em hidroponia (sistema floating), ambiente aquático que é propício para a espécie. Como é uma espécie de hábitos noturnos, os ataques só ocorrem durante a noite o que dificulta o controle manual. A cada ano a infestação se intensifica porque cada lesma desta espécie pode depositar até 138 ovos durante seu ciclo de vida.
Certamente esta lesma chegou ao Brasil e posteriormente àquela região da mesma forma acidental de tantas outras pragas: por meio de mudas de plantas ornamentais de jardinagem, plantas em vasos e mudas frutíferas contaminadas com os ovos e larvas minúsculas.