Boa tarde galera, vamos começar uma série de matérias abordando os anos terminados em “1”, bem como sua importância, o que de mais relevante aconteceu para aquele ano, e refletiu em toda a década, pois se pararmos para analisar, os anos iniciais de uma nova década, nos mostram as tendências que iram refletir em toda ela. Hoje começaremos analisando o ano de 1971, sem mais delongas, vamos aos trabalhos.
Este post vai voltar no tempo, mais precisamente, 41 anos atrás, no ano de 1971. Um ano muito fértil para o rock. Diversas bandas lançavam seus principais discos neste ano. Outras lançavam seus discos finais. Outras lançavam discos intermediários, que precederam seus principais álbuns. Vamos então rever como foi maravilhoso, musicalmente falando, o ano de 1971.
Após o surgimento da cultura hippie nos anos 60, os anos 70 começam com certa descrença em um mundo melhor. A Guerra do Vietnã estava a todo vapor e os protestos contra ela também. O psicodelismo já não fazia tanto sucesso e os famosos festivais já tinham acontecido, com os sucessos de Monterey e Woodstock já abafados pelo fracasso de Altamont (o festival dos Rolling Stones que acabou com mortes, graças à truculência dos Hell’s Angels). Falando em mortes, 1971 ficou marcado pela morte de dois grandes nomes do rock: Jim Morrison, vocalista do The Doors, e Duane Allman, guitarrista dos Allman Brothers. O nosso país estava no auge de uma ditadura que não permitia grandes expressões artísticas; ainda assim, os Mutantes estavam na ativa (com sua formação clássica) e lançaram um importante trabalho neste ano, “Jardim Elétrico”.
Vamos então aos discos que estão completando (ou já completaram), este ano, 41 anos de idade:
Janis Joplin – Pearl – lançado no comecinho do ano, é um disco póstumo; Janis já havia falecido no ano anterior. Na minha opinião, este não é seu melhor álbum (gosto muito do anterior e do último do Big Brother), mas tem uma qualidade marcante e clássicos imortalizados, como “Move Over”, “Cry Baby”, “Me And Bobby McGee” e “Mercedes Benz”. O disco foi produzido por Paul A. Rothchild, produtor do The Doors (curiosamente, ele não produz o último disco da banda, lançado neste ano de 71 – ver abaixo). Ao contrário do disco anterior, é um álbum mais polido, talvez talhado para produzir um sucesso do tamanho que Janis merecia. Lamentavelmente, ela não conseguiu terminar as gravações, falecendo de uma overdose de heroína (suspeita-se que a heroína que ela consumiu era mais potente que o normal, já que outros usuários do traficante de Janis também tiveram overdose). A canção “Buried Alive In The Blues” acabou instrumental pois Janis não colocou os vocais. Em 1999, toda a discografia de Janis foi relançada remasterizada e com faixas bônus. No caso deste disco, temos quatro faixas ao vivo como bônus.
Yes – The Yes Album – lançado em fevereiro, sua qualidade é excelente, mas ele não é o disco mais famoso da banda, e ainda não é a formação mais elogiada (Rick Wakeman, o mago dos teclados, entraria na banda no disco seguinte, “Fragile” – ver abaixo). Mesmo assim, temos grandes clássicos neste álbum, como “Yours Is No Disgrace”, “I’ve Seen All Good People” e “Perpetual Change”. Este disco também marca o começo da utilização somente de composições da própria banda, e das longas composições, uma marca registrada nos próximos discos do grupo. Outro ponto marcante deste álbum é a estreia do fantástico guitarrista Steve Howe, que já contribui com uma composição, a faixa “Clap” (curiosamente, a única faixa gravada ao vivo, todas as outras são de estúdio). O disco abriu caminho nas paradas para tornar o Yes conhecido (chegou ao quarto lugar na parada inglesa) e também iniciou uma sequência fantástica de discos que o Yes iria lançar nos anos 70.
The Faces – Long Player – para quem não conhece, o The Faces é a banda que juntou alguns remanescentes dos Small Faces (incluindo o baterista Kenney Jones, que mais tarde iria se juntar ao The Who) com Ron Wood e Rod Stewart, oriundos da banda de Jeff Beck. Este supergrupo teve uma carreira de mais ou menos seis anos, lançando quatro álbuns de estúdio. Este é o segundo, um disco que fez a sonoridade do grupo evoluir, com um rock elaborado recheado de lentinhas deliciosas, apoiado naquela voz rouca de Stewart (na época ainda roqueiro…). Destaque para as canções “Bad ‘n’ Ruin”, “Had Me A Real Good Time” (esta conta com a presença de Bobby Keyes no sax; Bobby gravou com os Stones “Brown Sugar”, ver abaixo) e uma versão ao vivo para a canção de Paul McCartney “Maybe I’m Amazed” (Paul não a tocou aqui no Brasil nos últimos shows, mas incluiu-a em shows mais recentes). Quem conhece os Black Crowes vai entender a importância dos Faces…
Jethro Tull – Aqualung – este quarto disco de estúdio é a obra prima da banda, o disco mais vendido dos asseclas de Ian Anderson (já vendeu mais de 7 milhões de cópias no mundo todo, segundo a Wikipedia). A faixa-título é um clássico marcante, com aquele riff introdutório, aquele trecho meio folk, o solo de Martin Barre, o final, tudo maravilhoso. Outros destaques do disco são “Cross-eyed Mary“ (coverizada pelo Iron Maiden no EP “Aces High”), “My God”, “Hymn 43” e “Locomotive Breath”. Apesar de nomear os lados do disco (o primeiro lado se chamava “Aqualung” e o segundo se chamava “My God”. É, pessoal novo nem sabe que antigamente os discos tinham dois lados…), Ian Anderson já afirmou em entrevistas que este álbum não é conceitual. O álbum já foi relançado remasterizado duas vezes, em 1996 e 1999. Este disco é o último a contar com o baterista Clive Bunker.
Humble Pie – Rock On – a banda de Steve Marriot (ex-Small Faces; seus companheiros foram formar o The Faces, como visto acima) e Peter Frampton começou a decolar com os lançamentos deste ano de 1971. Este primeiro disco, de estúdio, é um grande reforço no som hard rock que a banda já praticava nos álbuns anteriores, e é a base do disco ao vivo que lançariam logo após. Destaque para o clássico “Stone Cold Fever”, um rockaço de primeira; e para a cover “Rollin’ Stone”, de Muddy Waters. Um detalhe: Bobby Keyes, que aparece no disco do The Faces, aparece aqui também… Peter Frampton sairia em carreira solo logo a seguir (pouco antes do lançamento do disco ao vivo – ver abaixo), este é o último disco de estúdio a contar com sua presença.
Grand Funk Railroad – Survival – o Grand Funk era uma banda sensacional, um trio americano surgido no finalzinho dos anos 60, rivalizando com (e inspirado por) as grandes bandas inglesas da época. Este é o seu quarto disco de estúdio, e segue a linha dos anteriores, com um hard rock forte, calcado na cozinha de Mel Schacher (baixo) e Don Brewer (bateria), para os improvisos e solos do guitarrista/vocalista Mark Farner. A banda na época não tinha boas críticas, mas as vendagens eram muito boas. A banda tinha uma espécie de quarto integrante, o produtor Terry Knight, que também atuava como empresário. Neste disco, a banda usa backing vocals femininos em algumas músicas. Destaques para as covers “Feelin’ Allright”, do Traffic, e “Gimme Shelter”, dos Rolling Stones, além das composições próprias da banda. Mais abaixo, comentaremos outro grande álbum do Grand Funk…
Rolling Stones – Sticky Fingers – os Stones estavam, em 1971, passando pelo seu pico de criatividade. Começando em 1968, com “Beggars Banquet”, depois “Let It Bleed”, o ao vivo “Get Yer Ya-Ya’s Out” e finalmente este disco. Depois ainda teríamos “Exile On Main St.”, “Goats Head Soup” e “It’s Only Rock And Roll” (após este último, Mick Taylor sai da banda e teremos discos irregulares até o ótimo “Some Girls”). Uma sequência invejável e talvez só superada por outras bandas de igual naipe, como Beatles, Sabbath, Zeppelin. O álbum é composto de um clássico atrás do outro, com rockões como “Brown Sugar” (com o sax de Bobby Keyes, já citado em dois discos acima) e “Bitch”, baladas lindas como “Wild Horses”, e o blues enraizado como em “You Gotta Move”. A canção “Sister Morphine” foi gravada antes por Mariane Faithfull, e ela conseguiu, depois de uma batalha legal, parte dos créditos da composição (fonte: Wikipedia). A capa original do disco em vinil (a arte dos vinis era magnífica e ficou para trás mesmo…), concebida por Andy Warhol, trazia um zíper de verdade que abria e fechava, como uma braguilha da calça.
The Doors – L.A. Woman – o disco póstumo de Jim Morrison traz alguns clássicos da banda, como a faixa-título, “Lover Her Madly” e “Riders On The Storm”. Para este disco, a banda rompeu a parceria com o produtor de todos os discos anteriores, Paul A. Rothchild, e resolveram então produzir eles mesmos, com o auxílio do engenheiro de som Bruce Botnick. A sonoridade do disco traz um blues-rock de qualidade, e a banda incluiu até uma cover de John Lee Hooker, “Crawling King Snake”. O álbum alcançou a nona posição na parada americana e teria tudo para realavancar a carreira da banda. Mas uma tentativa de turnê para promover o disco acabou falhando já no segundo show, graças a Jim Morrison, que teve uma espécie de crise e se recusou a cantar a partir da metade do show. A banda então tomou a decisão de parar de se apresentar ao vivo, e Jim Morrison vai morar em Paris, onde acaba falecendo três meses depois, em julho de 1971. Uma grande perda para o mundo do rock: Morrison era um grande compositor e cantor, performático, polêmico e brilhante. O mundo sente falta dele até hoje!
Emerson, Lake & Palmer – Tarkus – um grande clássico do rock progressivo, este disco é o segundo na carreira deste trio de músicos invejáveis. Greg Lake, o baixista e vocalista, produz também este álbum. Logo na abertura a faixa-título, uma suíte de 20 minutos (ocupava um lado inteiro no vinil), com complexas variações, é um marco épico do rock progressivo. O trabalho de Keith Emerson nos teclados é incrível, tornando-o talvez o primeiro keyboard hero da história (talvez somente Jon Lord rivalize com ele). A faixa também conta com o primeiro solo de guitarra de Greg Lake. A história por trás da letra envolve as aventuras de um ser metade orgânico, metade mecânico (representado pela capa do disco), e sua batalha com um “manticore”. As demais faixas acabam até mesmo obfuscadas pela faixa principal, mas mantém um excelente nível. A banda ainda iria lançar mais alguns discos grandiosos antes de se desintegrar no final da década de 70. Na década de 80, uma tentativa de reunião acabou gerando o Emerson, Lake & Powell, já que Carl Palmer (baterista) não quis participar e Cozy Powell acabou entrando.
Black Sabbath – Master Of Reality – Muitos acham “Paranoid” o melhor disco da banda, mas este para mim não fica nada atrás. Recheado de clássicos como “Sweet Leaf”, “Children Of The Grave” e “Into The Void”, o álbum ainda apresenta trechos instrumentais que acabaram se transformando em belas introduções para alguns dos clássicos citados. E também temos um tema lento fantástico, “Solitude”, uma de minhas preferidas. Muitos acreditam que esta faixa é cantada pelo baterista Bill Ward, mas na verdade é Ozzy mesmo quem canta; uma prova dos talentos vocais do madman, tão criticado pela sua voz. Segundo a Wikipedia, o som sombrio deste disco é causado pela afinação da guitarra de Tony Iommi (três semi-tons abaixo; Geezer Butler acompanhou e fez também no seu baixo), que assim o fez para reduzir a tensão nas cordas e facilitá-lo na hora de tocar, graças ao seu problema nos dedos (para quem não sabe, Iommi sofreu um acidente na fábrica que trabalhava e perdeu parte de seus dedos).
The Who – Who’s Next – originado de um projeto para uma ópera rock chamado “Lifehouse” (projeto que acabou gerando tensões entre a banda e, não evoluindo a contento, acabou sendo abandonado), este disco é uma obra prima do rock, do talento de compositor de Pete Townshend. Composições maravilhosas, clássicos inesquecíveis como “Baba O’Riley”, com sua introdução clássica de piano, “Won’t Get Fooled Again” e a balada maravilhosa “Behind Blue Eyes”. A banda toda estava muito inspirada e tem performances avassaladoras. A sonoridade do álbum é excelente, combinando a energia da banda com trechos acústicos, uso de sintetizadores e piano, tudo acrescido da insana bateria de Keith Moon. Todas as composições são de Townshend, exceto “My Wife”, composta e cantada pelo saudoso John Entwistle (falecido em 2002, de um ataque do coração causado pelo abuso com cocaína). O disco foi um sucesso desde seu lançamento, alcançando o topo da parada inglesa e a quarta posição na parada americana. Este é outro exemplo de uma banda que estava em uma sequência fantástica de discos; no caso do The Who, tivemos “The Who Sell Out” e “Tommy” precedendo este álbum, e ainda “Quadrophenia” logo a seguir. Que sequência!
The Allman Brothers Band – At Filmore East – depois de dois discos de estúdio sem grande sucesso (mas com algum reconhecimento), a banda parte para a gravação de um disco ao vivo, para tentar capturar sua essência apresentada nos shows. Deu certíssimo, a banda fez duas grandes apresentações na clássica casa de Nova Iorque e o produtor Tom Dowd (produziu os discos anteriores da banda e o disco do Derek And The Dominos) pegou os registros e os transformou em um dos discos ao vivo mais famosos da história. O nível de entrosamento e improvisação da banda, os duetos entre os guitarristas Duane Allman e Dickey Betts são algumas das características mais marcantes deste álbum, que foi elevado a um nível de comparação até mesmo dos mestres do jazz, tamanha a qualidade das jams que rolam soltas no show. Os destaques do disco são justamente estas longas improvisações: “In Memory of Elizabeth Reed” e “Whipping Post”. Lamentavelmente, Duane faleceu pouco tempo depois do lançamento, em um acidente de moto, tornando este disco ainda mais importante e histórico.
Deep Purple – Fireball – depois de redefinir totalmente a sonoridade da banda com o imprescindível “In Rock” (a redefinição na verdade iniciou com a reformulação na formação da banda, com a entrada de Ian Gillan e Roger Glover), este disco “apenas” continuou a trilha iniciada anteriormente. E continuou no mesmo nível, reforçando o sucesso da banda e todo o talento desta formação. O álbum abre com a faixa-título, um petardo arrasa-quarteirão, e continua com tudo, desfilando clássicos e grandes performances, com os grandes duelos entre Lord e Blackmore, a cozinha fantástica de Paice e Glover e os vocais inigualáveis de Ian Gillan. Outros destaques do disco são “Demon’s Eye”, “Strange Kind Of Woman” (super tocada ao vivo pela banda), “Anyone’s Daughter” e “The Mule” (a versão do “Made In Japan” é inigualável). Sobre as duas primeiras, elas não constaram ambas do álbum: dependendo do mercado, uma delas era a terceira faixa do disco (na Inglaterra foi “Demon’s Eye”, já nos EUA foi “Strange Kind Of Woman”). O relançamento remasterizado de 25 anos acabou trazendo ambas e mais algumas bonus tracks. Curiosamente, há citações na Wikipedia de que a banda (exceção feita a Ian Gillan) não considera este álbum um clássico…
Uriah Heep – Look At Yourself – o Uriah Heep começava a se consolidar com este disco, que inicia uma série de lançamentos que catapultaram a banda ao sucesso (os próximos dois discos, “Demons And Wizards” e “The Magician’s Birthday”, são meus preferidos). O hard rock que o grupo praticava era bastante competente, lembrando um pouco o estilo do Deep Purple em alguns momentos. Destaque para o vocalista David Byron, um talento vocal que acabou falecendo em 1985 por complicações dos abusos com o álcool. Neste disco, destaco a grande canção “July Morning”, um épico de dez minutos, com ênfase nos teclados de Ken Hensley. O baterista Lee Kerslake, que tocou com Ozzy Osbourne nos seus dois primeiros discos (“Blizzard of Ozz” e “Diary of a Madman”), entraria na banda no disco seguinte, “Demons and Wizards”.
Pink Floyd – Meddle – sim, este não é um dos discos ultra-conhecidos do Pink Floyd, tais como “Dark Side Of The Moon” ou “The Wall”. Mas é a base do famoso vídeo de Pompeii (lançado no ano seguinte), e é um disco maravilhoso. A pegada da primeira faixa, “One of These Days”, com uma introdução fulminante de baixo (curiosamente tocado por David Gilmour), é apenas o começo de um disco bem eclético, que termina numa suíte de mais de 20 minutos: a canção “Echoes” tem diversas nuances e aqueles trechos com ruídos similares aos de um submarino. Outra faixa diferente é “Seamus”, com o famoso uivo do cachorro (no vídeo de Pompeii, a banda utilizou um cachorro diferente e não cantou nada). Para quem não sabe, a capa é uma foto de um ouvido debaixo d’água, “captando ondas sonoras”. Este disco pode ser considerado um marco de transição no som da banda, saindo da psicodelia rumo ao rock progressivo que os faria famosos.
Humble Pie – Performance Rockin’ The Fillmore – este segundo lançamento do Humble Pie (mais um gravado no Fillmore…) consolidou de vez o sucesso da banda, e ainda ajudou o álbum anterior, “Rock On” (falado aqui em cima), a vender mais e se tornar disco de ouro. Com uma performance arrasadora, a banda mesclou material próprio com algumas covers, e o resultado foi excelente. O disco começa com a excelente “Four Day Creep”, um bluesy-rockão para sacudir a plateia (Peter Frampton abriu seus shows no Brasil em 2010 com esta também). Segue com outros destaques como “Stone Cold Fever”, os 23 minutos de “I Walk on Glided Splinters” (cover de Dr. John), a cover de Muddy Waters “Rollin’ Stone”, a cover de Ray Charles “Hallelujah I Love Her So” e o single “I Don’t Need No Doctor”. Os músicos, inspirados, fazem grandes e longas performances que contribuíram para o sucesso e a importância deste grande disco. Lamentavelmente Peter Frampton saiu da banda pouco antes do lançamento, para seguir uma bem sucedida carreira solo. A banda seguiu na ativa até 1975, parou, retornou em 1980 e lançou mais alguns discos, até que um acidente na mão e uma úlcera desenvolvida por Steve Marriott desbandasse novamente a banda. Marriott iria falecer em 1991, em um incêndio. O baixista Greg Ridley ainda conseguiu gravar mais um disco da banda em 2002, mas também veio a falecer no ano seguinte.
Led Zeppelin – Led Zeppelin IV – depois de três discos fantásticos lançados, O Zeppelin ainda teria fôlego para um quarto disco (e mais alguns, é verdade), ainda mais forte e fazendo ainda mais sucesso. Estamos falando do disco que nos deu talvez a música mais tocada de todos os tempos – “Stairway To Heaven”. Também nos deu clássicos supremos como “Black Dog” e “Rock And Roll”. Mas o disco não vive apenas desses clássicos: canções acústicas consistentes como “The Battle of Evermore” e “Going to California” também são destaques, além do excelente riff de “Misty Mountain Hop”. O nome do disco é polêmico: ele consiste de quatro símbolos, um para cada membro da banda. O álbum chegou ao topo da parada inglesa e à segunda posição na parada americana. Para se ter uma ideia do sucesso deste álbum, ele já vendeu, segundo a Wikipedia, aproximadamente 37 milhões de cópias no mundo inteiro!
Genesis – Nursery Crime – o Genesis com Peter Gabriel era maravilhoso, nem se compara ao trabalho que foi feito sem ele nos vocais. Aqui neste disco temos a estreia de Phil Collins na bateria e Steve Hackett na guitarra. É o primeiro de uma série de trabalhos impressionantes que a banda iria produzir (“Foxtrot”, “Selling England By The Pound”, “The Lamb Lies Down on Broadway”), antes da saída de Peter Gabriel. O grande destaque é a faixa de abertura, “The Musical Box”, um dos maiores clássicos da banda, com uma letra que conta uma história que se passa na Inglaterra vitoriana, começa com os vocais calmos de Gabriel, e vai num crescente de performances instrumentais e vocais durante seus dez minutos. O restante do disco mantém o nível lá em cima, mas podemos destacar “The Return of The Giant Hogweed” e “The Fountain of Salmacis” – canções marcantes no rock progressivo, do qual o Genesis é um dos melhores representantes. Para os que não conhecem o trabalho do Genesis, ou conhecem apenas a fase “pop açucarado” com Collins nos vocais, corram e escutem estes discos antigos. Pérolas do rock progressivo!
Grand Funk Railroad – E Pluribus Funk – este excelente disco é talvez o melhor álbum do Grand Funk. Um disco com sonoridade mesclando o hard rock dos álbuns anteriores com uma levada funk, como na faixa de abertura, a excelente “Footstompin’ Music”. Aliás, este disco tem uma performance avassaladora do baixista Mel Schacher. E também os vocais do baterista Don Brewer (Brewer iria assumir o vocal em diversas canções nos próximos discos; destaque para o sucesso “We’re An American Band”). Mas Mark Farner continuava o destaque da banda com seu vocal forte e inspirado e sua guitarra liderando as canções. O produtor Terry Knight conduziu a banda por composições fortes até o grand finale na épica “Loneliness”, com arranjos orquestrais grandiosos que encerram o álbum magnificamente. Outros destaques do disco que podemos citar são “People, Let’s Stop The War” (com uma letra anti-guerra que foi acusada de inocente pelos críticos da época), “Upsetter” e “Save The Land” (outra com letra politizada, vocal de Don Brewer). A capa, uma espécie de moeda americana remodelada com o nome da banda, ficou famosa e é muito conhecida pelos fãs do grupo. O disco alcançou a quinta posição na parada americana, uma prova da força que a banda tinha naqueles dias da década de 70. Atualmente, está mais ou menos esquecida. Uma pena, já que se trata de um grande grupo de rock!
Mutantes – Jardim Elétrico – aqui no Brasil, em plena ditadura e AI-5 em vigor, tínhamos uma banda fantástica e maravilhosa como os Mutantes, aqui já abandonando um pouco a tropicália e partindo para voos mais independentes no mundo do rock. Arnaldo Baptista assumiu a produção do disco. Temos clássicos da banda como “Top Top”, “Tecnicolor” (onde a banda arrisca cantar em inglês – a banda iria lançar um disco em inglês no mercado externo, mas este projeto acabou não vingando e o álbum só viu a luz do dia em 2000 – o álbum se chamou “Tecnicolor”), “It’s Very Nice pra Xuxu” (brincando com as palavras nos dois idiomas, bem antes de diversas outras bandas recentes que se acham engraçadas), “Baby” (única do disco que não era composta pela banda, e sim por Caetano Veloso). A sonoridade do álbum continua eclética e abrangente, coisa que só os Mutantes conseguiram fazer bem no Brasil (não conheço nenhuma banda que conseguiu nem imitar os Mutantes). Ainda sim, o rock predomina e demonstra a qualidade dos excelentes instrumentistas que a banda tinha, destaque para Sérgio Dias, guitarrista excepcional.
Todos estes álbuns poderiam estar recebendo um tratamento especial para relançamento, mas as gravadoras estão mais preocupadas em processar pessoas que baixam músicas… Não à toa, estão mal das pernas. Justiça seja feita a alguns casos, como os discos do Grand Funk Railroad, cuja discografia foi relançada remasterizada em 2003, e ao “Fireball”, do Deep Purple, que foi relançado com diversas bonus tracks, quando fez 25 anos.