Menos da metade das mulheres relata que foi orientada por médicos sobre o risco de doenças cardiovasculares, segundo dados da American Heart Association, num dos seus boletins sobre o impacto das doenças cardiovasculares na população feminina americana. Até bem pouco tempo, não foi dada a real importância ao risco desta doença para as mulheres. Geralmente ocorre um direcionamento preferencial na prevenção do câncer de mama e colo uterino e da osteoporose, em detrimento da prevenção cardiovascular. Essa situação precisa mudar urgentemente, uma vez que as cardiopatias são a principal causa de morte em mulheres, superando a mortalidade por câncer, segundo afirmam os médicos especialistas na área.
Historicamente falando, até meados do Século XX somente a população masculina era submetida a avaliações cardiológicas. Foi quando as ideias feministas ganharam força, quando o estilo de vida da mulher começou a se transformar, adotando hábitos até então reprimidos, como o uso de álcool, fumo, e a disputar o mercado de trabalho com o homem que a mulher começou a apresentar e conviver com os fatores de risco que até então pareciam ser “privilégio” da população masculina. Foi criada uma cultura na qual a prevalência das doenças cardiovasculares era maior nos homens, o que de fato acontecia até 30 ou 40 anos atrás, quando se iniciou a escalada feminina.
Como consequência, nas últimas décadas, a incidência de doenças cardiovasculares (DCV) em mulheres tem, em muitos países, se igualado ou mesmo ultrapassado o índice de mortalidade em homens. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, na cidade de São Paulo, por exemplo, a relação de mortalidade por doença arterial coronária entre homens e mulheres era de dez homens para cada mulher em 1970. Em 2002, a proporção já era de 2,45 casos masculinos para cada feminino.
Um dos principais fatores de risco modificáveis para a doença da artéria coronária (DAC) é a alteração ou anormalidade nos níveis de gordura no sangue (colesterol, triglicérides), chamada dislipidemia. Ensaios clínicos demonstraram uma importante diminuição na incidência de eventos cardiovasculares ao reduzir os níveis de LDL-colesterol (o colesterol ruim), resultando, nos últimos 20 anos, em redução expressiva na mortalidade por DAC em homens. Esse benefício, no entanto, não foi evidenciado em mulheres, cuja ocorrência de DAC continua aumentando.
Segundo especialistas, as mulheres devem começar a se submeter a exames cardiológicos por volta dos 40 anos. A partir desta idade, e também após a menopausa, iniciam-se alterações importantes no metabolismo feminino que predispõe as mulheres que são portadoras de fatores de risco a uma maior possibilidade de desenvolver doença cardiovascular. Com a queda no nível do estrógeno, perde-se a proteção natural feminina às doenças do coração. Outros fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares são hipertensão, diabetes, tabagismo, obesidade e fatores psicossociais, os quais têm maior impacto no período pós-menopausa.
Assim, neste caso, a prevenção, que contempla a realização de exames periódicos, alimentação saudável e exercícios físicos ainda é o melhor remédio.