“A Copa das Confederações já me deixou a impressão de fortes contrastes entre os novos estádios e a miséria ao seu redor. Em seguida, uma multidão em manifestações nas ruas. Quando há tantos jovens nas ruas, você tem que ouvir. A prioridade não é o futebol. A prioridade são as escolas, os cuidados hospitalares, o trabalho… Eu acredito que o Mundial no Brasil pode coexistir com uma melhor política social. Claro que é impossível jogar bem num estádio que custou R$ 800 milhões e fica a 100 metros de uma favela de 120 mil pessoas, das quais 20% não têm o que comer. Mas nós não pensamos só na América do Sul. Os contrastes estão em expansão na Europa, e neste ritmo, nós também viveremos blindados, teremos nossas favelas”.
De quem são estas palavras? Não, não são de nenhum político malandro. São de um cidadão italiano que por acaso é também o técnico da seleção de futebol de seu país, Cesare Prandelli. Reproduzo sua fala não pelo ineditismo (miséria faz parte de nosso cotidiano e nem nos alarmamos mais, infelizmente!), mas pelo sentimento de que esse mal se alastra. Não estamos nos dando tempo para o humanismo. Somos, todos, zumbis acelerados pela pressa de resultados, pressões do trabalho e do banco. Nos poucos minutos de reflexão nos anestesiamos com redes sociais, cerveja e televisão. Retrato este cenário não como alguém que está imune e alheio a isso tudo, mas também como vítima e culpado. É mais uma reflexão em voz alta, de muita preocupação com o que estamos fazendo – e para quando estamos adiando- os ideais e sonhos de há pouco!