Sempre temos a certeza de que tudo mudará. Temos essa tendência a ver as coisas não como estáticas, mas em constante mudança. É uma proteção para valorizar o que temos agora. Dessa maneira tentamos não nos descuidar de quem gostamos ou daquilo que queremos. Mas em meio à angústia de saber que o futuro nos tirará inevitavelmente quase tudo, aos poucos se vai percebendo que certas coisas vão ficar. O medo de perder é que encobre de nossa visão essa faceta da vida que torna algo quase imutável. Por isso nos espantamos quando algo “não mudou nadaâ€, pois não percebemos o que não muda. Eu mesmo vivi isto nesta semana, ao passar por uma galeria de arte e ver que lá dentro, quase dez anos depois está o mesmo sujeito, com os mesmos óculos, com roupas semelhantes e até a cadeira virada na mesma direção. Dez anos depois!
Mas, não mudar, está errado?
Que inquietação é essa que nos move em caminhos sem sentido definido, apenas para não ficar parado? Que fizeram das cadeiras de balanço, meu Deus? Das rodas de conversa, da falta de pressa no balcão da padaria ou no ponto de ônibus? Porque preciso acelerar, buzinar, xingar quem dirige lento pela vida? Que inferno astral é esse que me deixa sempre atrasado, defasado, diante de um incapacitante sentimento de que não vai dar tempo? Algumas pessoas envelhecem no mesmo lugar. Não é defeito. Estamos nos enganado quando decidimos que tudo vai necessariamente mudar. Definitivamente: não! Porque é um contrassenso dizer que tudo muda se você ,depois de tantos anos, é ainda mesma pessoa (vamos lá, você sente isso!).
Mais um final de ano chegou e não serão poucos os que se sentirão frustrados por não terem mudado. Outros farão listas e desejos do que pretendem mudar para 2014. Mas e o que você é? Que tal uma lista se propondo NÃO MUDAR? Valorize o que conquistou, aquilo em que se tornou e despertou bons sentimentos em tanta gente até agora. Principalmente, não queira que os outros mudem. Não espere isto! Que presunção é essa de julgar os outros, se ninguém está neste mundo para ser coadjuvante no teu destino? Deixe que a vida venha como uma composição, um trem fantástico com mil vagões cheios de gente e emoções. Se aventure por eles. Esse trem veio de longe e vai ao infinito. Não fique á sua frente tentando freá-lo. Não corra atrás querendo alcançá-lo. É inútil. Você é um passageiro privilegiado com a prerrogativa de descer e subir nas estações que quiser. Só isso. E é muito, acredite.
Na semana que vem neste espaço a retrospectiva com as principais colunas do ano. Oportunidade para você brincar e ver se mudou ou não. Espero que relendo os textos de 2013 consigamos perceber que ainda somos os mesmos: incorrigÃveis, atrevidos, sonhadores, persistentes, chatos, felizes, tristes à s vezes, esperançosos o restante do tempo. Que não mudemos. Que mudem os cenários e os roteiros. A peça a encenaremos nós!