Boa tarde galera, finalizando hoje as nossas matérias percorrendo os anos terminados em “1”, que refletem todo o direcionamento e tendências que ditaram toda uma década, terminamos assim com o ano de 1991. Sem mais delongas vamos aos trabalhos e ver o que o ano de 1991 nos reservou.
Vamos então continuar a nossa viagem no tempo. Depois de passearmos pelos anos de 1971 e 1981 (que você pode ler no blog), agora é a vez de 1991, ano repleto de lançamentos de qualidade no rock. Uma espécie de movimento surgia, o grunge, com bandas que marcariam a década de 90. Perdemos artistas talentosos; outros surgiram. Projetos paralelos lançavam petardos incríveis. Vamos então relembrar tudo isto. Prometo que este é o último post da série!
1991 foi um ano que ficou marcado pela Guerra do Golfo (Bush pai começava a sina da família de guerrear…) e pelo desmantelamento da União Soviética, dando lugar a diversas republiquetas. A AIDS, que surgiu em 1981, agora era uma doença temida por todos, que nos tirava diversos talentos musicais, vítimas dos conhecidos abusos do rock and roll. Se no ano anterior tínhamos perdido Cazuza graças à doença, este ano perderíamos o sensacional Freddie Mercury, do Queen. O câncer também era temido e fez vítimas no mundo do rock: Eric Carr, baterista incrivelmente talentoso do Kiss, também nos deixaria após perder a batalha contra um raro câncer no coração (a banda iria homenageá-lo no disco “Revenge”, de 1992, com a última faixa, “Carr Jam 1981”). Uma curiosidade mórbida é que os dois faleceram no mesmo dia: 24 de novembro de 1991. Para completar as perdas, Steve Marriott, do Small Faces e Humble Pie (falamos dele no post de 1971) também faleceria, este por causa de um incêndio. Musicalmente, os anos 90 começaram a extirpar o hard rock farofa que tanto fez sucesso nos anos 80. O grunge chegava com força total, chutando forte as bandas posers para longe. As misturas entre rock e rap já não eram novidade e ganharam muita força nesta década, vide o encontro entre Anthrax e Public Enemy. No Brasil, tivemos a segunda edição do Rock In Rio, no Maracanã, festival marcado pela vinda dos Guns N’ Roses com sua formação quase original (faltou apenas o baterista Steven Adler), e grandes shows de Faith No More, INXS, Megadeth e Judas Priest. A MTV, que tinha estreado no país no ano anterior, ganhava força e começava a influenciar a música que se escutava aqui. O rock nacional mostrava sinais de fraqueza nas vendas, parcialmente graças à crise econômica provocada pelo Plano Collor. E os independentes cresciam, vide o sucesso de bandas como Viper, Ratos de Porão e Korzus.
Vamos então aos discos que foram lançados nesse ano de 1991 e nos deram as diretrizes de como seria a década de 90:
Innuendo – Queen – quase póstumo, este álbum foi gravado no auge da doença de Freddie Mercury, e no seu lançamento, as fotos de divulgação mostraram um Mercury totalmente consumido, muito magro e abatido. Musicalmente, este disco foi considerado como um retorno da banda a suas raízes mais rock and roll. Do meu ponto de vista, o disco tem altos e baixos, classificando-se como mediano na discografia do grupo. Destaque para a faixa-título (com participação de Steve Howe, do Yes, tocando a parte flamenca da canção) e “Show Must Go On” (que acabou ficando como uma espécie de homenagem ao vocalista). O álbum estreou no topo de diversas paradas (incluindo a britânica), retomando a força comercial do grupo. Lamentavelmente, a doença de Freddie já estava muito avançada e ele faleceria poucos meses depois do lançamento. Um dos maiores frontmen que o mundo já viu. The Queen is dead! Long live the Queen!!
1916 – Motörhead – depois de um problema jurídico com a gravadora, a banda ressurge 4 anos depois com um petardo intenso e variado, trazendo músicas rápidas, baladas épicas sobre a guerra (a faixa-título), uma homenagem aos Ramones (nomeada “R.A.M.O.N.E.S.”), ao nosso país – “Going To Brazil”, e tudo o mais que se pode esperar de um disco do Motörhead. O produtor Ed Stasium (trabalhou com Ramones, Biohazard, Living Colour) começou a trabalhar no disco mas, segundo a Wikipedia, foi despedido depois que Lemmy descobriu que ele estava adicionando claves e tamborins às faixas… Peter Solley acabou produzindo o disco. Meus destaques ficam para “I’m So Bad (Baby I Don’t Care)”, “No Voices In The Sky” e “Love Me Forever”, além das citadas anteriormente. Discaço!!
Out Of Time – R.E.M. – um dos maiores sucessos da década (este disco já vendeu 15 milhões de cópias em todo o mundo, segundo a Wikipedia), este disco transformou o R.E.M. de uma banda alternativa, cultuada no undergound norte-americano, em uma grande banda de rock famosa por todo o mundo. Com sua sonoridade de rock colegial influenciado pelo country americano, pelo hip hop (vide a canção de abertura, “Radio Song”, com participação do rapper KRS-One), com musicalidade diversa com instrumentos não usuais num disco de rock (vide o bandolim de “Losing My Religion”), este é um disco intenso, de qualidade duradoura e que ainda impressiona quando se escuta. Destaque absoluto para o mega-sucesso “Losing My Religion” e a hiper-alegre “Shiny Happy People”, além das minhas preferidas “Radio Song”, “Low” e “Near Wild Heaven”. Obrigado ao R.E.M. por recolocar o rock de qualidade no topo das paradas naquele ano!
Mama Said – Lenny Kravitz – o arroz de festa Lenny Kravitz (tocou ano passado na quarta edição do Rock In Rio, já fez show de graça na praia e tudo) já tinha lançado um disco antes deste, mas este foi o álbum que o fez estourar nas paradas. Principalmente, diga-se de passagem, pelo sucesso “Always On The Run”, composto em parceria com Slash (um riffaço de primeira!), que também participaria do video clip. Slash também toca na faixa “Fields Of Joy”, outro destaque do disco. Pessoalmente, prefiro os dois discos seguintes de Kravitz (“Are You Gonna Go My Way” e “Circus”), que me transmitem mais consistência musical. Neste disco aqui, me parece que Kravitz atira para todos os lados, acertando em alguns alvos (os destaques rock and roll já citados e a balada “It Ain’t Over ‘Til It’s Over”).
Arise – Sepultura – o melhor disco do nosso Sepultura está aqui. Muitos podem preferir “Chaos A.D.”, mas eu prefiro estes dez petardos. Com os clássicos “Arise”, “Dead Embrionic Cells”, “Desperate Cry” e a versão matadora para “Orgasmatron”, este álbum foi o passaporte que levou o Sepultura a um sucesso nunca antes imaginado para uma banda brasileira de heavy metal. Apesar de não representar uma inovação no som da banda (mais uma continuação do thrash conciso praticado em “Beneath The Remains”), sua sonoridade tem qualidade mais afinada e composições mais maduras, que se provaram relevantes no teste do tempo. Uma pena que esta formação tenha se desintegrado e acabou dividida em duas partes (o Sepultura atual e o Cavalera Conspiracy) que produzem bons discos, mas nem chegam perto da qualidade aqui alcançada.
Flashpoint – Rolling Stones – este disco foi o registro da turnê do bom álbum “Steel Wheels”. Temos nele os principais clássicos da banda – destaque para a trinca final com “Brown Sugar”, “Jumpin’ Jack Flash” e “Satisfaction”, e alguns lados B (que raios é isso? os compactos antigos eram lançados como um disquinho de vinil com duas músicas, uma em cada lado. O lado A trazia a música principal e tínhamos outra música do outro lado, o lado B…) que não costumam ser tocados sempre, como “Ruby Tuesday”, “Factory Girl” e “Paint It Black” (esta, pra quem não conhece, é aquela canção que toca no fim do filme “Advogado do Diabo”). Ainda temos duas canções de estúdio – “Sex Drive” e “Highwire”, que fizeram certo sucesso na época. Outro destaque é a canção “Little Red Rooster” (de Willie Dixon), com participação de Eric Clapton. Este foi o último disco a contar com o baixista original da banda, Bill Wyman, que resolveu sair após 30 anos no grupo.
Temple Of The Dog – Temple Of The Dog – este disco é uma espécie de projeto paralelo, que acabou iniciando o que viria a ser mais tarde o Pearl Jam. Também é um disco tributo à morte por overdose do vocalista do Mother Love Bone, Andrew Wood. Tudo isso unindo o núcleo restante da banda que tinha acabado de ficar sem vocalista (Jeff Ament e Stone Gossard), mais Matt Cameron e Chris Cornell, do Soundgarden, e dois novos membros: Eddie Vedder e Mike McCready. Composto basicamente por Cornell durante a turnê de sua banda, o disco tem aquele clima melancólico, com um rock mais arrastado baseado nos talentos vocais do cantor do Soundgarden. Porém, no single do disco, “Hunger Strike”, quem mostra seus talentos vocais é Vedder, dando uma mostra do que veríamos nos próximos anos no Pearl Jam. Outros destaques do disco são “Say Hello 2 Heaven”, “Reach Down” e “Your Saviour”.
Slave To The Grind – Skid Row – este disco marcou uma forte guinada da banda em direção a um heavy metal mais pesado e sujo, contrastando com o disco anterior, de produção mais limpa e polida. Sucesso absoluto, estreou no topo da parada americana. Destaque para os singles “Monkey Business” e a faixa-título, além de “Quicksand Jesus” e “Get The Fuck Out”, que acabou de fora da versão “clean” lançada lá fora (graças a seu palavrão, que se repete no refrão. Não esquecer que no começo dos anos 90 a patrulha conservadora americana estava a todo vapor, com selos nos discos e tudo). Apesar de ser mais pesado, o disco ainda contava com as baladas açucaradas do grupo, que acabaram ajudando a alavancar o sucesso do disco: “In A Darkened Room” e “Wasted Time”. A banda tocou no ano seguinte no Hollywood Rock e depois ainda voltou em 1996 ao Brasil, desta vez abrindo para Iron Maiden e Motörhead. Depois meio que se desintegrou com a saída de Sebastian Bach, mas ainda está na ativa com um novo vocalista, Johnny Solinger.
For Unlawful Carnal Knowledge – Van Halen – este disco foi um retorno do Van Halen a suas raízes. Primeiro, fizeram as pazes com o produtor Ted Templeman, que produz o álbum. Segundo, resolveram fazer novamente um disco com pegada hard rock, abandonando um pouco os sintetizadores, muito usados nos dois discos anteriores. Este pode ser considerado o melhor disco do Van Halen com Sammy Hagar nos vocais. O vídeo do single de lançamento do disco, “Poundcake”, mostrava Eddie Van Halen com uma furadeira junto a sua guitarra, para criar a introdução. Outros destaques do disco foram “This Dream Is Over”, “Right Now”, a instrumental “316” e “Top Of The World”. O disco estreou no topo da parada americana e ganhou um Grammy como melhor performance hard rock.
Attack Of The Killer B’s – Anthrax – este disco é uma coleção de lados B, covers, canções ao vivo. Acabou ficando como uma espécie de despedida do vocalista Joey Belladonna, que saiu da banda logo após o lançamento. Apesar de ser uma coletânea de “restos”, por assim dizer, temos um grande disco aqui, pois as versões cover e ao vivo do Anthrax são matadoras, e temos também o encontro com o Public Enemy, na faixa “Bring The Noise”. Temos também uma provocação ao PMRC (Parents Music Resource Center, um comitê escroto criado por esposas de políticos norte-americanos no meio dos anos 80, para censurar discos nos EUA), “Startin’ Up A Posse”, onde a banda desce o pau contra a censura norte-americana. Um fato negativo dessa coletânea é que traz uma versão chata remixada da faixa “I’m The Man”. O Anthrax passou por altos e baixos depois deste lançamento, trocou de vocalista algumas vezes (John Bush, Dan Nelson, reunião com Belladonna), mas agora retornou a uma posição de destaque com o retorno de Belladonna ao posto de vocalista e a participação na turnê com o Big 4 . Um disco novo foi lançado em setembro do ano passado “Worship Music” recebendo ótimas criticas.
Metallica – Metallica – surpreendendo a sua enorme base de fãs, o Metallica aqui resolveu fugir do thrash metal praticado nos discos anteriores e partiu para um som mais limpo, direto e certeiro, que acabou resultando num disco fantástico de heavy metal, um dos mais vendidos de todos os tempos (15 milhões somente nos EUA). Com grandes músicas e composições de imensa qualidade, o disco foi a porta para o Metallica se tornar uma das bandas de rock mais bem sucedidas da atualidade, lotando estádios em todo o mundo. Os destaques do disco vão desde “Enter Sandman”, a pesadíssima “Sad But True”, as baladas “The Unforgiven” e “Nothing Else Matters”, “Wherever I May Roam”, todas lançadas como single e com vídeo gravado. Não falarei muito deste disco pois pretendo fazer um especial de posts mais a frente sobre o mesmo.
Ten – Pearl Jam – como já vimos acima no comentário sobre o disco do Temple Of The Dog, o Mother Love Bone foi o embrião desta fantástica banda que rivalizou, nos primeiros anos da década de 90, a liderança do movimento grunge com o Nirvana (por mais diferentes que todas essas bandas soem – Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice In Chains, Screaming Trees – elas em teoria formaram um movimento grunge. Acho que foram bandas que tinham em comum romper com a sonoridade pseudo hard rock e visual poser dos malfadados anos 80). Com um rock maduro para um álbum de estreia, as canções aos poucos foram sendo lançadas como singles, tocando em rádios, aumentando exponencialmente as vendas do disco até ele chegar à segunda posição na parada americana (lembra um pouco a história do “Nevermind”, do Nirvana, que também demorou a alcançar sucesso). Hoje um clássico e considerado talvez o melhor disco da banda, o álbum contém diversas músicas consideradas as principais da carreira da banda: “Even Flow”, “Alive”, “Black”, “Jeremy”. Em 2009, este disco foi relançado em diversos formatos, com diversas faixas bônus, incluindo o especial acústico para a MTV.
Roll The Bones – Rush – este disco aqui no Brasil teve recepção de morna a fria. Mas lá fora este disco foi responsável por uma volta do Rush às paradas americanas, chegando à terceira posição. O disco pode ser considerado de transição, mas de muita qualidade (chover no molhado em se tratando desta banda…), onde o grupo já abandona fortemente as canções orientadas a teclados dos discos anteriores e já começa a tomar novamente uma postura mais roqueira, com a guitarra de Alex Lifeson assumindo o papel principal. Os destaques do disco são a faixa-título, com seu trecho meio rap (que foi feito pelo próprio Geddy Lee, segundo a Wikipedia), a muito tocada em shows “Dreamline” e “Bravado”, uma lentinha que também costuma ser muito tocada ao vivo.
On Every Street – Dire Straits – este acabou sendo o último registro fonográfico desta fantástica banda britânica. Depois do sucesso estrondoso de “Brothers In Arms”, seis anos antes, havia forte expectativa para este lançamento. Musicalmente, já percebemos que se trata mais de uma investida particular de Mark Knopfler. Os singles “Calling Elvis” e “Heavy Fuel” até destoam do restante do disco, de andamento suave, bem trabalhado, como seria a carreira solo do guitarrista. Apesar da recepção deste álbum não ter sido tão grande, ele vendeu bem (segundo a Wikipedia, oito milhões de cópias) e traz um trabalho de qualidade. Destaques para os singles citados e para a faixa-título, “You And Your Friend” e “The Bug”. Vale muito a pena buscar os trabalhos solo do homem, que continuou fazendo excelentes discos, mesmo em carreira solo. Um grande guitarrista do nosso tempo!
Use Your Illusion – Guns ‘n’ Roses – a mente megalomaníaca de Axl Rose deve ter bolado este lançamento sem precedentes na história da música. Simultaneamente, a banda lançou dois discos duplos, e conseguiu colocar ambos no topo das paradas (o II liderou e o I ficou em segundo). Musicalmente, foi um passo gigantesco que a banda tentou dar. O hard rock potente e vistoso de “Appetite For Destruction” só foi visto pra valer em algumas músicas, e a banda resolveu aumentar seu leque sonoro, com canções mais longas, no estilo progressivo (como “November Rain”, “Coma” e “Stranged”), algumas baseadas no blues, baladas de diversos sabores, até um infame rap para fechar o segundo disco (segundo a Wikipedia, esta faixa foi uma “surpresa” de Axl: nenhum outro membro da banda sabia de sua existência até o lançamento dos discos). Apesar destes dois discos possuírem diversos destaques e excelentes composições, nenhuma banda no mundo conseguiria lançar tantas canções de uma vez só com uma qualidade elevada. Este disco marcou a estreia de Matt Sorum na bateria (pelo menos no estúdio, uma vez que Matt já havia tocado com a banda ao vivo). Izzy Stradlin deixaria a banda alguns meses depois deste lançamento, a primeira de uma série de baixas na banda, tudo graças ao ego inflado e a personalidade difícil do vocalista Axl Rose.
No More Tears – Ozzy Osbourne – este é meu disco preferido da carreira solo do madman. Com composições certeiras (parte delas são de Lemmy, do Motörhead), execução perfeita e com o equilíbrio entre belas baladas e temas pesados, o disco foi um sopro de vida na carreira de Ozzy, elevando-o a sua merecida posição. Diversos clássicos saíram deste disco: “I Don’t Want To Change The World”, “Mama, I’m Coming Home”, “No More Tears”, “Road To Nowhere”. A faixa-título em especial é fantástica: desde a introdução no baixo (cortesia do baixista Mike Inez, que embora tenha participado desta composição e tocado durante a turnê, não tocou baixo no disco; Bob Daisley o fez), o clima com os teclados, os riffs pesados de Zakk Wylde, tudo contribui para este grande clássico. As baladas também são um capítulo a parte: apesar de serem temas lentos, geralmente desprezados pelo típico público heavy metal, foram um sucesso completo. Percebam que este disco contém a faixa “Hellraiser”, que foi composta por Ozzy, Zakk e Lemmy e também aparece em um disco do Motörhead – “March Or Die”, de 1992. Este álbum foi um sucesso comercial completo, chegando à sétima posição na parada americana e acumulando vendas de 5 milhões de cópias mundo afora. Os vídeos gravados também fizeram história: até hoje o vídeo da faixa-título é um marco na videografia do cantor.
Nevermind – Nirvana – este disco foi uma das maiores surpresas da indústria fonográfica. Me lembro de ler uma reportagem da BIZZ em que o repórter marcou uma entrevista com a banda antes do estouro e depois mal conseguiu falar com o agente. Musicalmente, o álbum mostra composições que cruzam estilos: punk encontra heavy, que encontra folk, que encontra mais heavy, mais punk… “Smells Like Teen Spirit” mostra um pouco disso, com seu andamento mais calmo que acelera bastante no refrão. “In Bloom” e “Lithium” seguem um pouco por este estilo também. Em “Breed” e “Territorial Pissings”, não há andamento mais calmo, a banda desce a porrada mesmo, sem dó. Já em “Polly” e “Something In The Way”, momentos acústicos e soturnos atacam. Esta salada musical do rock, de alta qualidade, foi responsável por tirar ninguém menos que Michael Jackson do topo da parada, no começo do ano seguinte (já vendeu mais de 26 milhões de cópias mundo afora). Uma façanha e tanto para uma banda que até então era desconhecida do grande público. A pressão enorme deste sucesso repentino acabou esfacelando a mente de Kurt Cobain, que resistiu apenas mais um disco e três anos, se suicidando com um tiro na cabeça em 1994. Deixou uma legião de fãs para trás.
Blood Sugar Sex Magik – Red Hot Chili Peppers – este disco trouxe enorme popularidade à banda, que até então tinha apenas certa fama no underground. Primeira parceria com o produtor Rick Rubin, que convenceu a banda a se mudar para uma mansão onde Harry Houdini viveu para gravar o disco, este álbum na época foi lançado como um vinil duplo. Rubin é um produtor que acaba transformando a carreira das bandas que produz; já tinha feito com o Slayer e fez também com o Red Hot. Musicalmente, fez a banda evoluir seu som, transformando-a numa máquina muito bem azeitada de funk rock melódico. Sim, melódico! Dois grandes sucessos deste disco são as baladas “Under The Bridge” e “Breaking The Girl”. E outras músicas trazem melodias agradáveis, que talvez expliquem o sucesso estrondoso do álbum. O grande single do disco é “Give It Away” (riffzinho do Sabbath no fim…), um petardo que até hoje sacode os shows da banda. Destaque também para “Suck My Kiss”, “The Greeting Song” e a faixa-título. Pouco depois do lançamento, o guitarrista John Frusciante saiu da banda, retornando em 1998 mas já saindo novamente em 2009. A banda tocou no Hollywood Rock de 1993, com aquelas fantasias doidas com capacetes que cospiam fogo, e depois no Rock In Rio 3 (já um show mais chato e muito recheado de baladas). Depois de um longo tempo de inatividade (quase 5 anos; o baterista Chad Smith até entrou no projeto paralelo Chickenfoot), a banda voltou, gravou disco novo “I’m with You”, lançado em agosto de 2011 e novamente, tocaram no Rock In Rio 4, agora com seu novo guitarrista Josh Klinghoffer.
Badmotorfinger – Soundgarden – depois de dois discos medianos de um heavy metal de qualidade normal, o Soundgarden resolveu se superar neste excelente disco, que transcende em qualidade, atacando com petardos de primeiro quilate, como “Rusty Cage”, “Outshined”, “Slaves & Bulldozers”, “Jesus Christ Pose”, dentre outras. A banda, apesar de manter o mesmo produtor (Terry Date, que produziu Pantera, Deftones, White Zombie), trouxe uma sonoridade mais diversificada, mais intensa, mais encorpada com composições mais maduras. O resultado, na minha opinião, foi o melhor disco de suas carreiras. Foi a estreia do baixista Ben Shepherd. A banda lançaria mais dois discos de sucesso ainda maior, mas conflitos internos poriam fim à banda. Recentemente, os membros se reuniram e lançaram em novembro desde ano o seu sexto álbum de estúdio “King Animal”, o primeiro da banda após 16 anos.
Achtung Baby – U2 – na época do lançamento deste disco, o U2 já era um dos grupos de maior sucesso do mundo. Politizados e altamente respeitados. Porém, a banda começava a tomar caminhos diferentes, demonstrando isso em gravações isoladas em 1990, onde já utilizavam batidas de dance music. Quando o primeiro single – “The Fly” – saiu, o susto dos fãs foi grande, graças a sua batida diferente. Porém, ao escutar o disco, percebeu-se que se tratava de outro álbum de alta qualidade destes irlandeses. Com destaque para “Even Better Than The Real Thing”, “One”, “Until The End Of The World” e “Misterious Ways”, o álbum alcançou mais sucesso ainda que seus antecessores, chegando ao topo da parada americana e vendendo mais de 18 milhões de cópias mundo afora (segundo a Wikipedia). O susto dos fãs passou, mas acabou se confirmando nos discos a seguir…
V – Legião Urbana – depois do estouro completo de sucesso com o disco anterior “As Quatro Estações”, um disco talhado para o sucesso, a Legião Urbana resolveu partir para um trabalho denso, de pouca comercialidade. Era um reflexo da fase que a banda vivia na época: segundo a Wikipedia, Renato Russo tinha descoberto que também estava com AIDS, como Cazuza, e passava por um período de forte dependência química. Por estes fatores, a banda mal excursionou para promover o disco (acabou fazendo poucos shows e gravou o “Acústico MTV”). Musicalmente, algumas canções tendem ao rock progressivo, como a épica “Metal Contra As Nuvens” e “A Montanha Mágica”. A utilização de letras e referências medievais também contribuiu para deixar o disco ainda mais soturno. O sucesso não veio, mas o disco é hoje considerado um ponto alto na trajetória da banda (pelo menos eu considero). Destaque para “Vento No Litoral”, uma linda canção que foi regravada por Cássia Eller e depois acabaram fazendo uma montagem com os dois cantando juntos, dois artistas que fazem uma falta tremenda no atualmente paupérrimo universo pop brasileiro. Viva Renato e Cássia!
Tudo Ao Mesmo Tempo Agora – Titãs – mais verborrágico e escatológico do que nunca, este disco dos Titãs marcaram o retorno da banda ao rock and roll visceral e direto praticado no disco clássico “Cabeça Dinossauro”. A crítica na época baixou a porrada no disco, sem aliviar nem um pouco (desnecessariamente…). A banda acabou chateada com este tratamento e também partiu para o ataque, chegando a rasgar revistas “BIZZ” em seus shows. Shows que estavam enchendo como nunca, diga-se de passagem. As baixas vendagens do álbum não podem ser atribuídas a sua qualidade ou apoio da crítica, e sim à crise da indústria fonográfica, efeito das “maravilhas” que nosso presidente Collorido fez… Para abrir o disco, “Clitóris”, uma canção que acabou caindo totalmente na graça dos fãs (porque será?). Outros destaques são “Saia de Mim”, “Isso Para Mim É Perfume” e “Não É Por Não Falar”. Talvez pelo pouco sucesso do disco, Arnaldo Antunes saiu da banda pouco tempo depois do final da turnê do disco, voltando ocasionalmente para participações especiais em alguns shows, como os do “Acústico MTV”.
Percebemos que 1991 foi um ano de produção intensa do bom e velho rock and roll. Novas bandas de qualidade surgiram, outras consolidaram sua carreira, alcançaram seu momento de maior sucesso. Outras lançaram seu canto do cisne. Foi muito prazeroso rever e escutar todos estes discos novamente para preparar este post. Post que encerra esta série de retrospectiva, que começou em 1971, passou em 1981 e se encerrou em 1991. Três décadas de rock vistas aqui no blog. Espero que tenham gostado. Até a próxima com muito rock na veia!!
Para me despedir deixo alguns vídeos, de músicas do ano de 1991:
Ozzy Osbourne – No More Tears.
Sepultura – Arise.
Motörhead – R.A.M.O.N.E.S – Ao Vivo.
Metallica – Sad But True.
Nirvana – Smells Like Spirit.
Legião Urbana – Metal Contra As Nuvens.
Titãs – Clitóris.
Uma ótima tarde a todos e até a próxima.