Entrando afundo no Black Metal – Parte 1 (Black Metal e a história da humanidade).

Publicado por Cris Fagundes - 12/06/2012 - 15h44

Como falei a alguns dias, vamos sempre que possível entrar afundo, com matérias especiais sobre cada subgênero e gênero de fusão do Metal,  e agora entraremos no subgênero,  acredito eu em um dos mais, senão o mais extremo, complexo e ao mesmo tempo rico em conteúdo a ser explorado e analisado do Metal, o Black Metal.

Bem, como falei acima, o Black Metal, é bastante complexo e extenso, para falar sobre ele, é preciso ir bem afundo na história, não só do subgênero em si, mas da humanidade mesmo, parar e entender os “porquês” de algumas coisas desse estilo, que se caracteriza não apenas por ser um subgênero do Metal, mas também social atualmente, se engana quem pensa que o Black Metal atualmente se resume apenas a cultuar o satanismo, ou manifestações anti-cristo e coisas do tipo, como aconteceu nos primórdios do surgimento do mesmo, o panorama atual nos mostra várias ideologias, e pensamentos que vão muito além disso, lógico que ainda existem bandas e nichos que seguem essa linha, mas o cenário atual é muito mais amplo, mas isso é assunto para nosso próximo texto.

Sem mais delongas, vamos falar um pouco sobre a idade média,período em que a igreja católica dominava o cenário religioso. Detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento na Idade Média. A igreja também tinha grande poder econômico, pois possuía terras em grande quantidade e até mesmo servos trabalhando, e também muita influência sobre toda a sociedade. A guerra na Idade Média era uma das principais formas de obter poder. Os senhores feudais envolviam-se em guerras para aumentar suas terras e o poder assim como a igreja católica afim de expandir seus domínios, poder, e eliminar qualquer tipo de ameaça. A educação era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam.  Esta era marcada pela influência da Igreja, ensinando o latim, doutrinas religiosas e táticas de guerras. A arte medieval também era fortemente marcada pela religiosidade da época. As pinturas retratavam passagens da Bíblia e ensinamentos religiosos. As pinturas medievais e os vitrais das igrejas eram formas de ensinar à população um pouco mais sobre a religião. Podemos dizer que, no geral, a cultura medieval foi fortemente influenciada pela religião. Na arquitetura destacou-se a construção de castelos, igrejas e catedrais.

Você deve estar se perguntando,  “o que isso tem a ver com Black Metal??”, eu respondo, isso mostra o quão grande era o poder da igreja católica na idade média, não se mediam esforços para aumentar ainda mais esse poder, e para entendermos um pouco o porque do Black Metal, ter  em sua origem, um cunho tão anti-cristão, de raiva, ódio, como atos extremos, precisamos adentrar nesse tema e período da história da humanidade.

Além das cruzadas, nesse período, por inúmeras vezes a igreja católica tentava se impor a força em terras que até então não tinha domínio, muitas vezes resultando em guerras sangrentas  com vários mortos, no que podemos chamar em um processo de cristianização da Europa.

A partir deste texto, temos uma idéia de três métodos missionários empregados na evangelização da Europa.

O primeiro método é o do convencimento: o missionário anuncia o Evangelho nos povoados e cidades, convence e batiza, depois organiza as estruturas das Igreja. É o método de São Bonifácio na Alemanha, por exemplo.

O segundo método é o da conversão dos chefes, reis ou príncipes, que depois trariam seu povo à nova fé. Assim foi na Gália, na Espanha e na Inglaterra.

O terceiro método, sem justificação na história missionária anterior, foi o das conversões forçadas, aplicado por Carlos Magno aos saxões: ou batismo ou morte. Conversões forçadas, fingidas, por interesse, longe da mansidão e do convencimento da tradição crista. Inaugura-se ai algo que terá repercussão negativa na história: a violência a serviço do Evangelho ou da unidade da Igreja.
Muitas vezes com a destruição dos lugares sagrados e dos templos pagãos. Não havia respeito pelas antigas culturas, pois isso poderia despertar a tentação do retomo ao que foi definido como sendo “paganismo”.

Aí chegamos em um ponto chave, esse terceiro método, batismo ou morte, foi muito aplicado nos países Nórdicos, mais fortemente na Noruega, um genocídio que a Igreja Católica causou à cultura Viking, assim como em regiões onde predominavam a Cultura e Religião Celta, não é atoa, que são exatamente nesses países, que o Black Metal, tem um cenário muito forte, e onde podemos dizer, foi o “berço” de onde o mesmo ganhou força, forma e consistência.

Não foi do nada que o Black Metal, surgiu com essa irá, raiva, critica, questionamentos e deboches ao cristianismo, pregando o satanismo e coisas do tipo, se formos analisar,  é um processo histórico, que foi sendo alimentado ao longo dos anos, décadas, séculos, passando de geração para geração, onde no meio de tantos, existem aqueles onde isso estava e está a flor da pele, permanece vivo, e foram esses que deram o combustível para o Black Metal se concretizar.
Eu costumo dizer que muitas das ideologias do Black Metal, pensamentos, estão muito bem embasadas, mas  determinadas ações talvez tenham sido erradas, (certo ou errado é muito subjetivo), então prefiro não sentenciar, e deixo que cada um pense de acordo com suas concepções.
Eu concordo que é muito errado, injusto, o que a igreja católica fez na Noruega e nos países Nórdicos, porém, acredito que as bandas de Black Metal fizeram a coisa Errada tentando fazer a Certa, aquela velha máxima, “Os fins não justificam os meios”, não é revidando que se chega a melhor solução, isso somente te iguala aquilo que você tanto reprova e condena.

Que tal fazermos aquele velho mas ótimo exercício, de nos colocarmos em determinada situação, para conseguirmos sentir e entendermos um pouco do que se passa??, …. guardada as devidas proporções, imagine você na sua casa, tento sua rotina estabelecida de anos, seus gostos, costumes, horários, preferências, e do nada chega um tirano desconhecido em sua casa, lhe impondo a força, uma nova rotina, novos hábitos, costumes e gostos, lhe deixando somente a seguinte opção: “Aceita ou Morre”, lhe deixando sem escolha, você tendo que abrir mão de tudo o que acredita, gosta e faz ao longo dos anos, porque é errado, o novo é o certo, tudo o que você fez até então deve ser destruído e apagado. Os anos passam, seus netos nascem, sua família continua, mas eles são reprimidos e não podem, relembrar e seguir aquilo que você (avô deles fazia antes da imposição), gerando em alguns deles revolta e irá, passando a questionar o que foi estabelecido, e querendo resgatar os costumes da família, talvez fazendo os agir de forma errada, mas baseado em um pensamento justo, … conseguiu??

Então é mais ou menos por aí que o Black Metal ganhou forma e força, você pode estar achando isso idiota ou sem importância alguma, mas para podermos adentrar de fato no Black Metal, eu precisava fazer essa “introdução”, para que a partir do próximo texto quando entraremos na história, origem, do Black Metal em si, você já tenha conhecimento desses fatos, para não aceitar ou concordar, mas entender, determinados fatos que iremos abordar.

Encerro essa primeira parte sobre o Black Metal, com a letra e vídeo da música: One Rode To Asa Bay, do Bathory* – que descreve muito bem o que aconteceu nos países Nórdicos nesse período – (letra sem nenhum satanismo ou algo do tipo).

One Rode To Asa Bay – (Letra traduzida):

Um homem cavalgou pela estrada através das florestas
Descendo por Asa Bay
Onde barcos-dragões haviam partido para o mar
Há mais tempo que alguém pudesse dizer
Para ver com seus próprios olhos a maravilha
O povo falou disso de pessoa pra pessoa
O Deus todo onipotente
Tinha chegado de uma terra estrangeiraOs rumores contados por um homem
Que viera do outro lado dos oceanos
Trazendo uma cruz de ouro em volta do pescoço em uma corrente
E falando em uma língua estranha sobre paz
Ele veio com homens estranhos em armaduras
Vestindo camisas roxas e laços
Cheirando não cervejas, mas flores
E sem pêlos nas facesE o atrevido homem que levava a cruz
Disse a todos em Asa Bay
Que o Deus de todos os homens, mulheres e crianças chegara
Para a todos salvar
E para agradecer o Senhor do Paraíso
Alguém deveria construir uma casa para o Deus
E salvar sua alma do Inferno
E esse alguém deveria ser batizado e dizer juramentosUm homem orgulhoso com o Martelo falou ao novo Deus
Para construir a casa Dele Ele mesmo
E falou alto sobre os Deuses de seus pais
Que se foram não há muito tempo
Os rumores, disse o homem com uma barba que parecia de fogo
E o Martelo na corrente,
Pelos homens de armadura silenciados foram e pelas
Suas espadas foram mortosAquele que não pagou uma moeda
Dentre quatro ao homem do novo Deus
Foi açoitado, acorrentado e preso
Pelo pescoço em um tronco (Em um tronco…)
E então todos em Asa Bay construíram
Uma casa com a cruz
Todas as horas da luz do dia eles suaram
Membros doloridos pois a fé tem um preçoE no ducentésimo dia
Lá estava em pé branca apontando para o céu
A casa do Deus da cruz
Grande o bastante para caber dois barcos-dragões dentro
E todos os de Asa Bay assistiram
A maravilha subir aos céus
Agora o Deus da cruz deveria ser agradecido
E satisfeito

Fora do círculo formado pela multidão
Um velho ficou parado
Ele olhava através das águas
E tapava do sol seus olhos com uma mão
E seus velhos olhos puderam quase ver
Os barcos-dragões saírem navegando
E seus velhos ouvidos quase puderam ouvir
Homens em grande número bradarem uma saudação a Odin

E no entanto ele já sabe
No entanto ele voltou a face em direção ao céu
E suspirou silenciosas palavras esquecidas
Faladas só nos altos caminhos
Agora essa casa de um Deus estrangeiro está em pé
Agora eles deverão nos deixar em paz
Ainda ele ouviu de algum lugar nas florestas
Velho corvo de sabedoria dizer
… povo da terra de Asa, isto é só o começo…

Bathory* – foi uma banda de black metal e viking metal formada em 1983 na cidade de Estocolmo, capital da Suécia, pelo multi-instrumentista Thomas “Quorthon” Forsberg. A banda é considerada uma das precursoras tanto do black metal quanto do viking metal. Os Bathory acabaram em definitivo no ano de 2004, quando Quorthon faleceu. O nome Bathory é uma homenagem à condessa húngara Erzsébet Báthory, considerada a serial-killer mais famosa da Hungria.
Uma ótima tarde a todos, e até a próxima quando daremos continuidade ao tema, dando enfase na origem e história em si do Black Metal.

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15 comentários publicados
  1. Fernando Oliveira

    Os noruegueses queimaram igrejas como forma de marketing, pois o "necro-sound" não agrada muito, e muitos começaram a ouvir black metal por causa dos incêndios criminosos, palavras de Fenrir, dita no documentário "Until the Light Takes Us". Os noruegueses podem buscar a Odin, abertamente, te garanto que os cristãos não vão interferir. O BM escarnece Cristo, cospe em Cristo, mas ele dá a liberdade de continuarem zombando dele. O mesmo não acontece com Maomé, se você zombar de Maomé no estado islâmico, você é morto.

    • João Marcos

      O cristianismo "dá essa liberdade" HOJE você quer dizer, né? Por que em alguns países europeus, como a própria Noruega, o termo democracia não é apenas um termo, ele é um exercício constante na sociedade. Por isso a Noruega é o melhor país para se viver no mundo.
      O cristianismo não aprisiona por que a democracia do estado não permite.

  2. junior

    Eo punk rock

  3. Berith

    Só trocaria "cultura viking" por "cultura nórdica", mas ficou muito bom o texto.

  4. Erich Milane

    As atrocidades cometidas pelos nazistas não fizeram os judeus promoverem uma retaliação. Entendi que hoje os noruegueses, ou suecos tem liberdade para resgatar suas crenças e religiões abertamente. Não temos hoje guerra sobre isso. Ok existem os extremistas islâmicos mais são os únicos hoje em dia. Penso ainda que as bandas de Black metal estão em seu direito legítimo de se expressar mais verdade seja dita como no próprio texto diz as bandas do primórdio do estilo cometeram atos absurdos sob a desculpa da vingança, da intolerância. Ou seja dizer que as bandas que vieram depois não compartilham desses mesmos ideais é o mesmo que dizer que neonazistas não compartilham das ideologias de Hitler. O que quero dizer é que não dá pra ser Black metal sem estar inserido no discurso preconceituoso. Não dá para ser nazista e não ser preconceituoso. Não dá para não ser simpatizante se você tem como bandas de inspiração as mesmas que incendiaram igrejas, cometeram suicídios, e assassinatos. Não tem coerência. Ou a pessoa é do bem ou não é. Filosofia do ódio já bastou o nazismo, e os terroristas de hoje em dia.

    • The Lhama

      Meo Deos du Céu, Berg

  5. Artur Batatais

    Gostei, valeu deu pra saber um pouco sobre esse tipo de metal.

  6. Batatais

    Gostei muito da história e como surgiu o Black Metal. E deu pra saber um pouco sobre esse tipo de metal.

  7. Fernando

    Muito Interessante a historia

  8. barbara

    eae cara blz bah muito foda as historias e tal leagl ver a concepção tão exata de alguem… tem page no face pq não acheii

  9. César varginha - mg

    Adorei todos os textos tá de parabéns

    vai me ajudar muito no meu trabalho…

    • Cris Fagundes

      Valeu, muito obrigado!!

  10. Mark

    cade a parte 2 que eu nao acho?

  11. Fernanda, SaoPaulo

    Apreciei bastante, contudo, mesmo que o mérito seja todo seu, você não citou qualquer fonte…

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