Boa tarde galera, a um tempo atrás eu fiz uma matéria no blog sobre o mestre Jimi Hendrix, hoje decidi fazer sobre outro mestre da guitarra, Sir Eric Clapton, mostrar a sua importância e influência no rock, na guitarra e no cenário musical em geral, bem sem mais delongas, vamos aos trabalhos.
O solo de guitarra, passou a ser o fato importante no rock nos anos 60, com os grupos nascendo invariavelmente em torno de um grande guitarrista. O “boom” dos Stones e dos Beatles levou alguns músicos a novas buscas, aos primeiros experimentos. A base era ainda a mesma: o rithm’m blues. Os caminhos porém começavam a se abrir. E um nome surgia como o mestre da guitarra, e nos anos seguintes mudaria também essa história.
Eric Clapton é a outra seiva do tronco do rock. Nascido no final da guerra (30 de março de 1945), sua vida sempre foi marcada pelo estigma que acompanhou seu ídolo, Robert Johson, uma encruzilhada de dois caminhos, o céu e o inferno.
Ele foi Deus quando os muros de Londres amanheciam pichados “Clapton is God”, na época em que tocava com os Bluebrackers de John Mayal e rastreava o braço da guitarra com solos inspirados. Foi Deus ainda maior no Cream, o supergrupo pioneiríssimo que comandou. E desceu ao inferno mais de uma vez, a última em 91, quando seu filho de 5 anos caiu da janela do 53º andar do apartamento de luxo em Manhattan onde morava com a mãe, a estrela da televisão italiana Lory Del Santo.
Viu morrer amigos e parceiros, sofreu a paixão mais alucinante e em cima dela construiu um dos mais belos hinos de amor do rock, se afundou nas drogas, caiu fora, virou místico e aí está, ainda um tronco vigoroso, gerando frutos.
O inferno de Clapton começou na infância, quando a mãe o abandonou com a avô e o padrasto aos 2 anos, numa pequena cidade a 50 quilômetros de Londres (Ridley). Só soube disso aos 9 anos, pior ainda, pela boca de outros, e o choque o acompanhou durante toda adolescência — e talvez para sempre. Na biografia autorizada de Ray Coleman, publicada em 85, ele confessa:
“isso alterou muito minha conduta por toda vida: alterou muito minha perspectiva e minha aparência física porque ainda não sei quem sou”.
O importante porém é que no incrível ano de 1961, Clapton também já estava em Londres, ouvindo o som que rolava nos pubs, tocando aqui e ali, esperando a vez para substituir Mick Jagger no Ealing Club “quando ele tinha dor de garganta” e, nesse ano, descobriu também o disco mágico, The Best of Muddy Waters. Aí ele recuou um pouco e descobriu Robert Johson. Estava com todas as ferramentas que precisava na mão.
Formou o primeiro grupo apenas em 63, o Roosters, quando conheceu Tom McGinness, que o apresentou a Hideaway, banda instrumental de Freddie King, outro papa do blues. Em outubro deixa os Roosters e entra para a primeira de suas superbandas, os Yardbirds. Quando o grupo está pronto para explodir, Clapton sai, descontente com o rumo pop comercial do Yardbirds. Ele queria tocar blues, não aquela música comportada e harmônica do Yardbirds. “Se não fosse música negra, era lixo”, diz na biografia.
O próximo grupo foi o Bluesbreakers, de Mayall, em que ficou um ano (65/66) e onde conseguiu chegar ao que queria: um grande trabalho de guitarra, deixando a voz para segundo plano. Mayall era 12 anos mais velho que Clapton e seu Bluesbreackers foi a grande escola para toda uma geração de músicos que brilharia nos anos 60 — Peter Green, Jack Bruce, Mick Taylor, Aysley Dunbar, Mic Fleetwood.
“Eric Clapton Featured with John Mayall’s Bluesbreakers”, o disco gravado em 66, transcendeu tudo que havia sido feito pelos “guitarristas brancos” até então, e se tornou uma bíblia em todo o mundo. Ali ele era o primeiro guitarrista de rock com um estilo absolutamente próprio, combinando velocidade, fluidez, sentimento, emoção, agressividade à tudo que o blues exige de um músico de blues. Nessa época, Clapton já dominava e havia aperfeiçoado técnicas como a sustentação por feedback e o som de válvula sobrecarregada, com amplificadores Marshall. Como não existiam jogos de cordas leves com a 3ª sem revestimento, substituiu essa corda por uma outra de banjo, o que lhe permitiu ampliar o âmbito de seus solos, ajudar no vibrato e na torção das notas. A revista Rock Espetacular, edição de 1976, afirma que B.B. King diria que só existiam dois guitarristas capazes de fazê-lo suar de verdade: Peter Green, que substituiu Clapton na banda de Mayall, e o próprio Eric.
Outro marco na carreira de Clapton, ainda dentro do Bluesbrackers, foi o contato com Jack Bruce. Clapton havia se afastado por três meses da banda, em 65, e na volta encontrou aquele contrabaixista maluco, que incursionava
pelo jazz, pelo blues, fazia uma fusão e destroçava as cordas. Com Bruce, Clapton parou de imitar os discos de blues e passou a procurar um caminho próprio. A formação jazzy de Bruce levava o grupo à improvisação e Clapton a novas descobertas. Aí surgiu o Cream. Bruce despertou em Clapton o desejo de voar mais alto e eles decidiram voar juntos. Faltava um baterista que partilhasse as mesmas idéias, que encontraram em Ginger Baker, outro que pendia para as improvisações do jazz.
O Cream foi o creme de la creme do rock, abriu caminhos inteiramente novos, influenciou todos os grupos que vieram depois. Até então as plateias adolescentes urravam ao som de qualquer grande banda mais conceituada, ninguém ainda discutia ou parava para “ouvir música”. Isso aconteceu com o Cream. Eles formaram o primeiro power trio do rock, o primeiro grupo onde cada um se revezava para mostrar suas habilidades individuais. A base ainda era o blues, mas o som viajava no palco nos solos ou na fusão brilhante dos três virtuoses. Uma marca registrada do Cream, que é imitada ainda hoje, está na música “Sunshine of Love”, no famoso riff combinado de guitarra e baixo tocado em solos uníssono. No estúdio eram um grupo normal; no palco faziam um furor, dando a primeira abertura para coisas que viriam depois como a fusion rock-jazz e o próprio heavy-metal.
No Cream a guitarra de Clapton explodiu, seu som ficou mais puro, quando queria, e mais “sujo”, depois, quando descobriu o woman-tone, o toque feminino, extravagante, distorcido. Apesar de toda essa revolução, um dia a revista Rolling Stone descreveu Clapton como “o mestre do clichê”. Nessa ocasião ele ouviu também o disco de um novo grupo americano que tocaria com um sujeito chamado Bob Dylan, o The Band, e decidiu: é esse o som que vou fazer agora. E o Cream acabou. Era novembro de 1968. Nasceu logo depois o Blind Faith, com Steve Winwood (ex-Traffic), o mesmo Ginger Baker e Rick Grech, baixista da Family (aquela que veio ao mundo no concerto dos Stones para Brian Jones, junto com o King Crimson). O grupo durou apenas aquele 1969, mas deixou pelo menos um clássico, a linda “Can’t Find my Way Home”, de Winwood, além do primeiro spiritual de Clapton, Presence of Lord. Nessa época, quem abria os shows do Blind Faith era um grupo comandado por Delaney e Bonnie Bramlett, com apresentações despretensiosas e misturas de soul e rock. Clapton algumas vezes viajava no mesmo ônibus com o grupo e lembra que “muitas noites tocava tamborim com eles, me divertindo mais que com o Blind Faith”. Então, quando o Blind Faith acabou Clapton patrocinou uma excursão do Delaney e Bonnie à Inglaterra, tocando com o grupo.
É dessa época o primeiro grande revés de sua vida, depois da descoberta de que fora criado pelos avos. Clapton era amigo íntimo de George Harrison, o pessoal do Delaney e Bonnie que tocava com ele estava gravando “All Thing Must Pass”, o álbum solo de Harrison e Clapton cai literalmente de paixão por Pattie Boyd Harrison, isso mesmo, a mulher de George. Aí ele já excursionava com um grupo que chamou Derek and the Dominos, e para fugir daquela paixão louca viajou para Miami, onde produziu sua outra grande obra prima, um dos mais belos hinos de amor do rock: Layla.
Nesse momento, Clapton já estava totalmente entregue à heroína e as gravações foram feitas estimuladas pela droga. Uma noite decidiram ouvir um concerto ao ar livre com a banda dos irmãos Gregg e Duane Allman, os Allman Brothers, e depois do show Clapton convidou Duane para uma jamm no estúdio. Dez dias depois estava pronto o album “Layla and Other Assorted Love Songs”. A ajuda de Duane e sua agonia romântica produziram Layla. Depois disso Clapton voltou para a Inglaterra, não conseguiu produzir o novo disco e passou a viver recluso em sua casa em Surrey, sustentando um vício de heroina de 1000 libras por semana. Voltaria aos shows em 1973, graças principalmente à ajuda de Pete Townshend, do The Who. Mas só se recuperaria totalmente em 1974, através da cura por eletroacupuntura. E paramos sua história por aqui.
Curiosidades:
Clapton se afundou nas drogas, loucamente apaixonado por Pattie Harrison, mas um dia ela sucumbiu à paixão e até 1986 foi a Sra. Clapton.
Duane Allman, grande responsável por Layla, morreu de acidente de moto em 1970.
Depois de superar a crise da dependência de heroína, o primeiro disco de Clapton foi “461 Ocean Boulevard” e incluía uma canção tradicional e de nome sintomático: Motherless Children (filhos bastardos seria uma tradução pesada mas é por aí — e essa música Richie Havens cantou em Woodstock).
O Cream foi o primeiro grupo a tocar no Madison Square Garden. E foi o primeiro grupo a gravar faixas longas em um disco.
Slowhand, nome do álbum em que aparece “Cocaine”, é o apelido de Clapton: mão leve.
A primeira vez que tocou como músico de estúdio, em 4 de maio de 1964, Clapton gravou duas faixas com o pianista-vocalista de blues Ottis Spann. No estúdio estavam também Muddy Waters, na guitarra, Ransome Knowling, no baixo, Willie Smith, na bateria e outro guitarrista que começava a chamar a atenção: Jimmy Page. Page também tocou harmônica.
O Cream foi o primeiro grupo a gravar um álbum duplo com músicas inéditas; o primeiro a improvisar com liberdade; o primeiro grupo de rock a tocar peças longas.
Bem galera, por hoje é isso, deixo para vocês alguns vídeos da carreira do mestre Eric Clapton.
Bluesbreakers – All Your Love (1966).
Cream – Sunshine of Your Love (Ao Vivo 1968).
Eric Clapton – Forever Man.
Eric Clapton – Eyesight to the Blind (Música original de Sonny Boy Williamson II, entrou na trilha sonora de “Tommy” – o filme, ópera-rock do The Who).
http://www.youtube.com/watch?v=StS-QBd-_78
Eric Clapton – Crossroads.
Tenham todos uma ótima tarde e um ótimo final de semana, até a próxima.
Eric Patrick Clapton é, sem a menor sombra de dúvidas o melhor e mais completo guitarrista de todos os tempos. Consigo discernir a guitarra tocada por Sir. Clapton em meio a milhares. Seu estilo e a perfeição que os acordes dele alcançam são absolutamente maravilhosos. Não há, não houve e não haverá ninguém como o “Deus da guitarra”.
Concordo com voce plenamente!
Alem disso Clapton é um dos melhores improvisadores na guitarra